quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Música de 2009

Em jeito de registo para memória futura, aqui ficam as minhas preferências musicais deste ano que nos deixará daqui a poucas horas. A ordem apresentada não é a ordem de preferência. É a ordem que a memória ditou. No entanto, se tivesse de apontar um só trabalho, talvez a minha preferência fosse para Chris Garneau. Talvez...
Num ano de fraca safra musical, realço as duas presenças portuguesas (Legendary Tigerman e o surpreendente B Fachada); a constância de nomes como Jason Molina com o seu projecto Magnolia Electric Co., e os sempre excelentes Sonic Youth. Depois de os ter visto em Braga num concerto memorável, os Wilco deixam marca no ano de 2009 com um trabalho ao nível dos melhores que produziram na sua já longa carreira. Realce ainda para as nostálgicas sonoridades dos 80's, tão bem reinterpretadas e reinventadas por Julian Plenti. Is Skyscraper é um trabalho que, de forma injusta, passou ao lado de muita da crítica musical que se entreteve, no entretanto, a idolatrar flops (Grizzly Bear ou os enjoativos Dirty Projectors, são disso bom exemplo).
Por fim, saúdo o regresso em força do vinil. Neste capítulo merecem realce a feira de vinil da FNAC e a soberba mostra do plástico preto, intitulada Styill Vynil que teve lugar em finais de Outubro, no Hotel Park em Lisboa, que me permitiu comprar algumas coisas que me enchem a alma (particular destaque para Memphis Slim, USA; e Elvis is Back!, ambos em edição audiófila de 180g).
Eis então, a minha lista de preferências, relativamente ao ano de 2009:

.: "Is Skyscraper" - Julian Plenti

.: "Truelove's Gutter" - Richard Hawley

.: "Josephine" - Magnolia Electric Co.

.: "B Fachada" - B Fachada

.: "El Radio" - Chris Garneau

.: "The eternal" - Sonic Youth

.: "The Dark Night Of The Soul" - Danger Mouse and Sparklehorse (visuals by David Lynch)

.: "Wilco (the album)" - Wilco

.: "Femina" - The Legendary Tigerman

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Volta para o ano, sim?

Como adiar o inevitável.
A mais velha história do mundo, recontada.
Cortesia da NFB.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Feelin' blue?

Será que os árbitros de futebol têm andado todos estes anos a tomar Viagra?

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Direito à diferença

Morreu "a voz" de Portugal. O primeiro dia deste mês de Novembro trouxe a notícia da morte daquele que foi a minha mais forte influência musical. Falo de António Sérgio. Descobri-o quando frequentava o liceu de Oeiras. Era na companhia dele que terminava a tarde, em casa, no primeiro horário do "Som da frente", na Frequência Modulada da RDP-Rádio Comercial. Mais tarde passou a acompanhar-me nas madrugadas. O "Direito à diferença", uma alusão clara à música alternativa que divulgava, passou a ser um dos meus lemas. Muito lhe devo. Eu e toda uma "imensa minoria" que via em António Sérgio a resposta às ânsias de conhecer "coisas novas" da música que se fazia pelo mundo. Só ele o fazia e todos os que, a seguir a ele, fizeram o mesmo, imitaram-no. Uma coisa nunca conseguiram: imitar-lhe a voz. Essa era única. Inimitável. Como ele.
O Jornal "i" homenageia António Sérgio de forma singular. Vale a pena espreitar aqui.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Rato mágico

Quem me conhece sabe que, no que respeita aos chamados "periféricos" da informática, tenho particular paixão por ratos. Continuo à procura do rato perfeito. O meu actual Logitech tem dado muito boa conta do recado. Hoje, com o anúncio, por parte da Apple, do seu novo Magic Mouse, o seu lugar (sendo destro é debaixo da mão direita, habitualmente) está seriamente em risco. Além das imensas e práticas novidades que promete, é uma peça de perfeito design. Lindo de morrer! Está encomendado e aguardo as boas prestações da Apple Store.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Elogio da força

Whatever you like, um original de Clifford Harris (AKA T.I.), numa bela interpretação de Joan as Police Woman.

The lady is a tramp

Joan Wasser visitou Portugal mais uma vez. Sábado, na Casa da Música (Porto) esteve, durante mais de hora e meia, em palco, quase como se não desse por isso, tal o à vontade demonstrado. Joan as Police Woman (antiga namorada do génio, já falecido, Jeff Buckley) esteve sempre seguríssima de si, numa pose assumidamente provocadora e sensual. Apresentou um trashy look ao qual agregou uma série de tramp tics (sentindo que o seu vestido tinha umas finas e rebeldes alças, ao fim do segundo tema pediu fita e colou-as aos ombros! E assim se manteve até ao fim, mesmo enquanto distribuía autógrafos). Fica-lhe bem, esta postura. Com ela veio o seu amigo, Timo Ellis, que garantiu (e que bem!) a sonoridade de alguns instrumentos. Os outros estavam gravados numa antiga e eficaz k7 (sim, uma velha e inesperada k7) que Joan fez questão de mostrar ao público, logo no início do espectáculo. Tocou sobretudo temas da sua mais recente aventura, um álbum de versões apropriadamente intitulado Cover. Nas suas deambulações entre o teclado e as guitarras, Joan ofereceu-nos To be Lonely, Honor my wishes e To be loved (magnífica versão) do seu anterior To survive. O seu trabalho de versões (dez temas) foi todo ele interpretado. Cover só se vende nos concertos o que levou Joan a berrar "Just like Old school", enquanto cruzava os braços à Xutos... O álbum, não tendo a qualidade dos seus dois anteriores trabalhos a solo, tem momentos muito interessantes, com especial destaque para a quinta faixa, do rapper T.I. (Clifford Harris), intitulada Whatever you like. Antes de se despedir do imenso público que a acompanhou, Joan teve ainda oportunidade de agradecer a forma como é sempre recebida em Portugal e, pela enésima vez, agradeceu o trabalho e a presença do seu amigo Timo. Keep rockin', Joan.
Mais imagens aqui

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Como o som nos afecta

Em pouco mais de quatro minutos, Julian Treasure, numa palestra do projecto TED, fala-nos da forma como o som nos afecta.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Life ain't enough for you

Legendary Tiger Man feat Asia Argento - "Life Ain't Enough for You"

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Ainda de sobrancelhas levantadas

Novamente Raised Eyebrows (The Feelies), agora com as vozes das guitarras mais limpas.
Raised Eyebrows (The Feelies)

Loucos ritmos

Um dos meus álbums de estimação, Crazy Rythms dos The Feelies, vai sair com nova roupagem. Num ano de alguma míngua (Chris Garneau volta a marcar diferença com um fabuloso segundo trabalho intitulado El Radio que tem rodado muito por aqui), nada como recordar com saudade the real thing dos anos oitenta.
Filtre-se a qualidade do som (e imagem) e ouça-se Raised Eyebrows. A arte dos The Feelies num momento filmado do seu regresso.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Lo-fi

Amante compulsivo tanto de música como de Alta-fidelidade, custa-me verificar como os danos da popularização dos formatos de compressão musical têm aumentado. O que mais me preocupa é que tantos aos autores como os produtores e os engenheiros de som comecem, também eles, a trabalhar para um mercado que não se importa de ouvir só parte da música (os ficheiros de som comprimidos recorrem a complexos algoritmos matemáticos para filtrar parte da informação, limitando-a ao espectro do audível, diminuindo-lhes dramaticamente o tamanho). A indústria adapta-se à falta de exigência e isso é claramente um retrocesso civilizacional. A revista Ípsilon do jornal Público, publicou um interessante texto (com bastantes virtudes e alguns defeitos, claro está) que, entre outros considerandos bem mais optimistas, resume também aquilo que considero ser preocupante, relativamente à forma como hoje a música é ouvida e vivida. Sobretudo pelas "gerações mais novas", expressão gasta mas que serve para o propósito. O texto faz-nos ainda reflectir sobre os novos caminhos evolutivos da música. Ou músicas, diria eu. Deixo-o aqui, repositório ideal (desde que a net não acabe!) para eu mais tarde recordar. Este é, de resto, um dos propósitos deste blog: manter registos de ideias, acontecimentos e documentos que retratam uma contemporaneidade sempre em mudança.

"Para quem ouvia o gramofone no início do século XX, ou a cassete nos anos 80, seria inimaginável este mundo actual de Internet e mp3, de épicos de mil instrumentos criados num apartamento. O futuro da música - o nosso futuro como ouvintes, portanto, de iPod no bolso, "phones" na cabeça, dez ou 20 CD para ocasiões especiais - nunca foi tão imprevisível como agora. E não começa só daqui a 104 dias, quando entrarmos em 2010: já começou. Vai valer tudo, até ressuscitar a cassete.

Eis-nos numa sumptuosa casa parisiense, em plenos Campos Elísios. Uma orquestra toca num salão, animando alguns dos convivas. Não todos, que há quem prefira ouvir teatro ou ópera noutra divisão, seleccionando o canal que o espírito julgue adequado ao momento, há quem prefira ser senhor total da companhia sonora e, noutra divisão ainda, seleccione o registo que queira ouvir, do princípio ao fim, com as interrupções que julga apropriadas. Relato de hoje, tempo de mil dispositivos e outras tantas plataformas de lazer, de iPhones, iPods, iTunes, Blu-Ray e Surround 5.1? Nem por isso. Relato de uma festa no 202 dos Campos Elísios, mansão de Jacinto de Tormes, personagem principal de "A Cidade e As Serras", romance póstumo de Eça de Queirós, editado em 1901 - esta não parecerá, convenhamos, a forma mais apropriada de iniciar um texto que se pretende sobre o futuro. E, no entanto, avançamos.
A animação na mansão: a orquestra, o Teatrofone ligado por linha telefónica às grandes salas parisienses, o gramofone soltando melodias preservadas em cilindros de cera. O início desta história: a íntima relação entre tecnologia e música. Uma alimentando a outra, conduzindo-a à mudança - quer por aproveitamento, quer por reacção. Resumindo: do gramofone de início do século XX à música feita em Playstation no XXI.
Na viragem de século parisiense em que encontrámos Jacinto, estávamos à beira de uma revolução. Com a possibilidade da gravação, os processos de fruição, criação e interpretação da música transformar-se-iam irremediavelmente. Nessa altura, compositores como John Philip Sousa, catastróficos, anunciaram o fim das cantorias amadoras, caseiras, e o desemprego dos músicos profissionais. Outros, por sua vez, elogiaram a democratização que o invento traria: a música, toda a música, dos cantores populares aos líricos, das grandes orquestras aos pequenos combos, acessível a todos (onde é que já ouvimos isto, e recentemente?).
Como sabemos, o apocalipse de Sousa não se concretizou. Como sabemos, a democratização tornou-se realidade - e a necessidade de adaptação ao modo "democrático" não demorou a fazer-se sentir. A trompete de Louis Armstrong e os metais das bandas jazz, tornaram-se quase omnipresentes: ultrapassavam com o seu poder estridente as limitações do gramofone que era, por exemplo, pouco dado às subtilezas das cordas de uma orquestra - problema que não se punha, outro exemplo, com as gravações do tenor Enrico Caruso, cuja voz ampla e poderosa, captada e amplificada de uma forma única, o transformou numa das primeiras estrelas da alvorada da música gravada.
Naquele período, maestros empalideceram ao ouvir, nas gravações de ensaios e de concertos, incorrecções de que nunca se tinham apercebido.
Os violinistas passaram a usar mais assiduamente o "vibrato", até então recurso esporádico, dado que o som assim produzido dava, nas gravações, outro peso à sua presença, e os dadaístas, vendo mais longe, utilizaram os gramofones não como emissores, mas como instrumentos de criação musical. Quais proto-DJs vanguardistas, organizaram sessões em que ligavam vários gramofones em simultâneo e em diferentes velocidades, procurando descobrir na música novos sentidos - tudo isto é explicado por Alex Ross, crítico de música da "New Yorker", num artigo, publicado em Junho de 2005, sobre "Capturing Sound: How Technology Has Changed Music" (University Of California Press, 2004), o livro de Mark Katz.

Imersos em som
"Fast-forward" até 2009. Para os inventores de inícios do século XX, seria inimaginável isto que agora temos: tanto mundo imaterial e tudo passível de ser utilizado para a criação musical - de resto, a partir do momento em que John Cage compôs o famoso "4'33"", no longínquo ano de 1952, instaurando o silêncio e o som ambiente como música, ficámos com todo um espaço, imenso, infinito, para preencher. Para os habitantes do início do século XX, prosseguimos, inimagináveis a Internet e as consolas, inimaginável a Torre de Babel que é toda a música de todos os tempos tão facilmente disponível. Inimaginável tê-la tão portátil - 20 mil orquestras e 40 mil bandas num aparelho de "oh-tão-poucos-gramas" -, inimaginável a possibilidade de ser um músico megalómano a criar épicos de mil instrumentos no quarto de um apartamento. Entre tudo isto, porém, algo se mantém inalterável: a forma como a tecnologia ajuda a moldar e a transformar a música que é criada, no início deste século como no início (e no meio, e no fim) do anterior. Diferença substancial: neste momento, as transformações sucedem-se ao ritmo dos "upgrades informáticos" - ou seja, a velocidade supersónica - e manifestam-se de forma múltipla.
(...)
Num momento em que vivemos, como nunca antes, rodeados de som, tudo conta. A facilidade de gravação - possível com um programa razoavelmente barato instalado no computador ou com um mero jogo de Playstation que simule um simplificadíssimo estúdio de gravação - espicaça a criação e os estímulos sonoros constantes criam novos dialectos. Assistimos à transformação de sons de consola em matéria criativa (conferir o grime de Dizzee Rascal), vemos como a música concreta de ontem se transforma na pop de hoje (ouvem-se aspiradores, frequências rádio ou talheres de cozinha nas canções de Micachu & The Shapes). Descobrimos que ferramentas de estúdio utilizadas para esconder deficiências e que, como tal, se mantinham assunto discreto, saltam para plano de destaque e ressurgem como marca identitária: o Auto-Tune, salvador de vozes ou instrumentos desafinados, corrigindo-os electronicamente, é acusado de formatar excessivamente a música mainstream da actualidade, habitada como nunca de timbres estranhamente perfeitos, roboticamente humanos, mas também se tornou a marca de água, devidamente exposta, do rapper T-Pain (na sua ficha na Wikipedia lê-se "instrumento: Auto-Tune") e ponto central do último álbum de Kanye West, "808s & Hearbreak".

Os "miúdos" percebem as diferenças
Paradoxalmente, a evolução tecnológica tem-nos conduzido a um patamar em que a perfeição sonora, a limpidez acústica ou os ínfimos detalhes de produção se tornem quase redundantes. Ouve-se música através de auscultadores em ficheiros mp3, ouve-se música nas colunas dos computadores. Em Maio, o MC e produtor Xeg dizia ao Ípsilon que não se preocupara em enviar o seu último disco, "Outros Tempos", a um profissional que o misturasse: "90 por cento das pessoas, mesmo que comprem o CD, vão passá-lo para mp3 e ouvi-lo nos 'phones'. É preciso estar assim tão arranjado?", questionou. Há algumas semanas, por sua vez, o engenheiro responsável pela remasterização da discografia dos Beatles, Allan Rouse, queixava-se em Abbey Road que poucos iriam dar uma "verdadeira oportunidade" ao meticuloso trabalho de quatro anos que desenvolvera: "Gostava de pegar num desse miúdos que andam na rua com um iPod e trazê-lo aqui para ouvir as diferenças".
Estamos certos de que os "miúdos" perceberiam as diferenças. De resto, muitos deles terão até em casa uma aparelhagem razoável, com um amplificador razoável e uma colunas razoáveis, e recorrerão a ela de tempos a tempos, qual experiência sazonal, muito prezada, mas que não faz parte da fruição quotidiana de música. Ouviriam os Beatles remasterizados em Abbey Road, com altíssima definição sonora. Depois, regressariam a casa. Pegariam numa guitarra roufenha, utilizariam um programa democraticamente acessível a todos e gravariam umas canções que soariam tão bem no leitor de mp3 quanto na tecnologia de ponta dos estúdios de Allan Rouse. Não é isso que acontece com a música de uns No Age, punks catárticos com queda para melodias deliciosamente trauteáveis em baixa fidelidade, e de uns Wavves, mestres do abandono adolescente em glorioso e ruidoso lo-fi? Olhamos para "Wavves", o primeiro álbum, e vemos o futuro a tomar forma (parece, mas não é, um fantasma do passado): gravaram-no em cassete, um formato que, como reacção à deriva hiper-tecnológica da música no século XXI, tem ressurgido pontualmente. Os Times New Viking foram ainda mais além: depois de experimentarem a cassete, deram o grande salto em frente e gravaram o novo álbum, que sai agora, em VHS.
No início do século, maestros empalideceram ao ouvir as imperfeições das suas orquestras preservadas em cilindros de cera. Em 2009, já ninguém empalidece. Adopta-se a tecnologia, adapta-se a tecnologia, resiste-se à tecnologia. E a música evolui. Em todas as direcções, evolui. Como sempre. Mais freneticamente do que nunca."
Mário Lopes, Ípsilon, 18 de Setembro de 2009

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Cats on Fire no Meu Mercedes


Ontem, por esta hora, ainda me passeava pelo Meu Mercedes, o emblemático e resistente bar da noite do Porto. Na companhia de uns "finos" preparava-me para, com o João Lima, amigo de há trinta anos, ouvir e ver uns rapazes (e uma rapariga) vindos da Finlândia que ele me vem recomendando há já uns tempos. Chamam-se Cats on Fire, têm dois álbuns editados e uns poucos Ep's. Aquilo a que assisti foi o casamento perfeito entre belas malhas de guitarra e letras bem bonitas com recados subtis de vária ordem (The borders of this land, Tears in you cup, ou a belíssima Fabric). A consciência política também faz parte do alinhamento destes finlandeses.
As melodias são vivas e simples, de refrão fácil com evidentes influências de grupos dos anos oitenta, com particular evidência para The Smiths, The Go-Betweens e R.E.M.. Descomplexados, simpáticos e humildes, foram extremamamente profissionais na forma como encararam uma sala pequena e com pouca gente. Os poucos que lá estivemos, gostámos muito. Não me espantaria que, numa lógica de crescimento natural tendo em conta a qualidade, ainda se venha ouvir falar bastante de Mattias Björkas e companheiros.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

De noites negras de muitas almas

David Lynch, no seu mais recente devaneio, juntou-se aos improváveis Sparklehorse e ao irrequieto Danger Mouse para uma incursão dupla no mundo da literatura e da música. O projecto teve baptismo em Junho deste ano e dá pelo "lynchiano" nome de "Dark side of the soul". Esta informação em si já é por de mais interessante (de arregalar olhos e ouvidos) mas, se a isto se acrescentar as colaborações de Black Francis (the Pixies), The Flaming Lips, James Mercer (the Shins), Julian Casablancas (The Strokes), Nina Persson (The Cardigans), Gruff Rhys (Super Furry Animals), Suzanne Vega, Iggy Pop, e o próprio David Lynch (uf...), então estamos perante um mega-projecto de puro entretenimento dos sentidos. Único. Uma curiosidade mais: Danger Mouse não teve autorização da sua editora (EMI), para participar neste projecto. A solução? Na primeira, edição vem incluído um cd-r virgem, em branco, limpo, com imagem impressa para, segundo os autores: "Use it as you will"...

As férias (e uma tardia tomada de conhecimento), impediram-me a aquisição deste livro/cd mais cedo. Vem a caminho ao custo de algumas horas na net a procurar exemplar disponível (são só 5000, numerados) a preço digno(!)... Rezam as crónicas que esgotou em horas, por isso dificilmente teria hipóteses de outra forma. É que é muita gente grande junta num só artigo. Único!

editado: chegou ontem, dia especial por ser o dia nove do nono mês do ano nove deste milénio, o exemplar nº1429 desta edição exclusiva. Gsoto tanto de receber estas coisas!

domingo, 26 de julho de 2009

Férias

Chegam finalmente as férias. Durante alguns dias respirarei ares dos Balcãs e brisas do Mar Adriático. Eslovénia, Croácia e Bosnia Hercegovina, via Itália, Para quem por aqui passa, deixo sinceros desejos de boas férias. Nas próximas semanas estarei longe de computadores, teclados, hubs, ratos e quase(!) tudo que seja tecnológico. Divirtam-se.

Até já.

Sobreviverei

sábado, 25 de julho de 2009

Sons de 2009

Foi preciso chegar a finais de Julho deste ano de 2009 para ouvir algo que realmente achei interessante. Tem sido um deserto musical, este ano. Passei por Grizzly Bear e Veckatimest (os Gomez vêm fazendo, desde 98, com "Bring it on", muito melhor); e Dirty Projectors com Bitte Orca (na década de 90, entre outros, o projecto Latin Quarter já fazia a fusão harmónica e melódica, quer dos instrumentos, quer dos sons africanos, com a cultura sónica pop). Nada de novo, portanto. E nada de particularmente interessante. Tem sido esta a realidade deste ano que, de ímpar, só tem o nove.
O que me chamou a atenção foi "Julian Plenti - Is skyscrapper" de... Julian Plenti. São dez temas com uma sonoridade que nos remete para a década de 80, ou não fosse o seu responsável, o frontman dos Interpol. Paul Banks é Julian Plenti no seu projecto a solo e seguirá comigo para férias.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Só os anjos não têm sexo

"Michael Jackson não queria ser uma criança; queria ser um santo. Ou um anjo. E os anjos, é sabido, não têm sexo."
Num texto claramente antológico (porque muitíssimo bem escrito), salta à vista a lucidez e o tom verdadeiramente neutro do autor, relativamente ao fenómeno Michael Jackson. O filósofo Bernard Henri-Lévy, no jornal i.

"Primeiro o horror dos objectos. Toda uma panóplia de máscaras, couraças, sombrinhas, objectos nómadas; uma bolha simultaneamente sufocante e hiper-oxigenada, enclausurada e sobreexposta, que funcionava como uma estufa e o preservava da grande contaminação das coisas. Não apenas dos vírus, dos germes, das bactérias. Mas da própria vida, vista como um germe; o acto de viver tornado bactéria. A matéria, os objectos, o ar que respirava quando se aventurava fora da sua querida Neverland; tudo se tornou fonte de infecção e de pestilência. Obsessão macabra, reino cadavérico. Os grandes dandies eram assim. Jules Barbey d'Aurevilly. Beau Brummel. Oscar Wilde e seu Dorian Gray. Tacões vermelhos para dançar pairando sobre um mundo de miasmas e humores. Maquilhagem e artifício para escapar ao De Profundis de um abismo de parasitas. Sem falar já de Baudelaire que, da repugnância que sentia pela natureza e suas proliferações monstruosas, tinha deduzido os princípios da sua estética, da sua ética, da sua política. Michael Jackson era herdeiro de todos eles. Michael Jackson, com os seus discos de vinil, o seu látex, a sua casa-mausoléu, os seus terrores profiláticos e também, claro, os seus entrechats de bailarino genial cercado de luz por todos os lados, foi o derradeiro desses grandes dandies. Acrescente-se-lhe o cuidado mórbido que, segundo parece, prodigalizava ao seu corpo. No fim, não morreu de overdose de medicamentos; morreu do desejo de inventar uma vacina contra a vida e de se inocular com ela. Depois, há os outros. Já não as coisas, mas os humanos, proximidade maligna e repugnante. A mera presença dos outros, seus odores, seus olhares imediatamente perscrutadores que eram sentidos como uma ofensa, uma ameaça, fonte e causa de toda a violência e dos quais apenas o vidro fumado dos óculos o protegia. Inferno? Sim, o inferno. Desta vez, um Jackson sartriano cujo paradoxo, entre outros, se tornou evidente no momento em que compôs "We Are the World". Nesse momento popularizou o "humanitário contemporâneo", ele que via a humanidade como um fracasso, os homens como feridas e a sociedade como um mal necessário, solução de compromisso obrigatória, resignação degradante que um artista aceita a contragosto. Esta reencarnação de Peter Pan parecia sinceramente pensar que os filhos eram gerados sem intervenção física.

Geração, corrupção... Desejo sem concupiscência... O que, no mínimo, demonstra o absurdo da caça às bruxas que lhe moveram nos últimos dez anos de vida. Michael Jackson não queria ser uma criança; queria ser um santo. Ou um anjo. E os anjos, é sabido, não têm sexo. E depois, por fim, há ele próprio. O seu corpo, o seu rosto, vistos como ameaças mais tremendas ainda, lugares de todos os perigos, inimigos íntimos e impiedosos que levariam toda uma vida a subjugar e aniquilar. Aí, uma vez mais, passa-se ao lado da aventura singular de Michael Jackson; interpretamos mal a louca metamorfose que imprimiu ao seu rosto; não compreendemos nada dessas operações cirúrgicas que se auto-infligiu repetidamente ao longo da vida se as reduzirmos a uma questão de pigmentação - raça, anti-raça, ódio de si próprio, mal-estar, inadequação. Basta olhar para as fotografias. Veja-se a epiderme cada vez mais branca, como que em cal viva. Repare-se no nariz reduzido a quase nada, nos lábios comidos a partir do interior, na estrutura facial estreitada qual máscara de Jívaro ou escultura de Giacometti. Examinemos de perto os traços fisionómicos emaciados, a pele retraída, os olhos encastoados no crânio como anéis no dedo de um esqueleto Consideremos essa redução - um filósofo diria essa epoché - de um rosto levado à sua (in)expressão mais simples. Não é o rosto a própria assinatura de uma pessoa? A sua verdade? A maneira de se expor e de se exprimir? A marca da singularidade de cada um, da sua preciosa unicidade? Claro. E é por isso que este terceiro capítulo, esta forma de tortura, de mortificação, de profanação e, em última instância, de apagamento do próprio rosto se deve ler como a derradeira estação de uma longa e terrível via-sacra. Quem chega a este ponto, optando por escapar ao reino das coisas e, depois, por sair das fileiras dos humanos e tornar-se um humano sem rosto, não tem já grande escolha. Ou reinventa o humano, tornando-se transumano e criando um organismo geneticamente modificado. Ou morre."

Bernard Henri-Lévy, Publicado em 08 de Julho de 2009, Jornal i

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Beck/Motorcade

Uma das vantagens de se ouvir Beck é que os seus temas, com o tempo, ganham outra vida. Este Motorcade, que surgiu via shuffle no meu iTunes, vai-me obrigar a "recuperar" The Information. Com todo o prazer.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Stop-motion

Clip elaborado apenas com a arte de stop-motion. Admirável!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

It's a Sony

Vale a pena ver como a Sony está prestes a mundar o mundo, reinventando o conceito de interactividade. Tudo será muito diferente (ainda mais), num futuro muito próximo.

Pontos nos is

Apetece-me fazer uma declaração de princípios: o jornal i é, neste momento, o meu jornal. Tem conteúdo sem ser em excesso. Sabe dosear a informação importante com trivia, de forma inteligente. Tem excelentes cronistas. Tem boas colecções agregadas (a mais recente, com a colaboração da gigante Wallpaper, acerca de algumas cidades do mundo, é irrepreensível). Veste o tamanho certo e é agrafado o que, para as praias (sobretudo estas do norte, sempre cheias de vento), dá um enorme jeitão. E ainda tem esta característica única: não é publicado ao domingo. Em contrapartida, as edições de sábado trazem uma revista graficamente muito interessante, com conteúdo apelativo acerca das diversas gavetas da sociedade, tornando-a, por isso, variada, dentro dos limites do tema. À revista chamaram "Nós, Portugal e os portugueses". Vou continuar com o i.

Moral decay

Pois... a mim também me faz muita confusão!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Música de elevador

A chamada "música de elevador" que durante anos foi da quase exclusiva responsabilidade de Gheorge Zamfir e da sua flauta de pan, tem novos protagonistas. À cabeça, o quase inaudível projecto intitulado Nouvelle Vague. São a mais recente, cantada e requintada forma de easy listening levado ao extremo. Aquilo que começou por ser uma boa ideia não passa, hoje, de um tortura para os meus ouvidos. Durante uma curta viagem de elevador até se tolera (mas isso tb acontecia com a flauta do romeno, com a vantagem das músicas deste serem instrumentais). Durante uma hora de esplanada, aquelas versões soft de grandes êxitos, tornam-se maçadoras e melosas. Volta, Zamfir, estás perdoado.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Summer grass

Embora não pareça, estamos em pleno Verão, época de desenvolvimento de forragens, relvas, gramas e diversas ervas daninhas. Neste Verão envergonhado, Weeds recomeçou (quinta série) e já vai com três episódios. The hemptress returned. Viva o Verão!

sábado, 27 de junho de 2009

Remember Wacko Jacko?!

Recuso esta hipocrisia reinante, esta devoção fingida. Por mim já foi tarde e não lamento nem um bocadinho.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

"Mozart é um amigo do teu irmão lá no hi5!"

..."Mozart é um amigo do teu irmão lá no hi5!"

domingo, 7 de junho de 2009

A nuvem (outra vez)

Este blog já no passado abordou a força da nuvem. O conceito de cloud computing faz cada vez mais sentido e a abordagem mais recente desta matéria remete-nos para questões de segurança que afectam sobretudo o utilizador das plataformas baseadas em Windows. Desta forma, a Panda Security está a investir fortemente no desenvolvimento da primeira solução de segurança tendo por base "a nuvem". O Panda Cloud Antivirus está disponível desde há umas poucas semanas, e parece-me ser um produto muito interessante porque é eficaz e, acima de tudo, porque requer poucos recursos das máquinas. Melhor ainda: é grátis e vai manter-se grátis mesmo depois de deixar de ser um produto em desenvolvimento (beta). Andemos, pois, nas nuvens.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Manual de inquisidores

"A PUBLICAÇÃO, pelo Ministério da Educação, do “Manual de Aplicadores” não passou despercebida. Vários comentadores se referiram já a essa tão insigne peça de gestão escolar e de fino sentido pedagógico. Trata-se de um compêndio de regras que os professores devem aplicar nas salas onde se desenrolam as provas de aferição de Português e Matemática. Mais preciso e pormenorizado do que o manual de instruções de uma máquina de lavar a roupa. Mais rígidos do que o regimento de disciplina militar, estes manuais não são novidade. Podem consultar-se os dos últimos quatro anos. São essencialmente iguais e revelam a mesma paranóia controladora: a pretensão de regulamentar minuciosamente o que se diz e faz na sala durante as provas.
ALGUNS exemplos denotam a qualidade deste manual: “Não procure decorar as instruções ou interpretá-las, mas antes lê-las exactamente como lhe são apresentadas ao longo deste Manual”. “Continue a leitura em voz alta: Passo agora a ler os cuidados a terem ao longo da prova. (...) Estou a ser claro(a)? Querem fazer alguma pergunta?”. “Leia em voz alta: Agora vou distribuir as provas. Deixem as provas com as capas para baixo, até que eu diga que as voltem”. “Leia em voz alta: A primeira parte da prova termina quando encontrarem uma página a dizer PÁRA AQUI! Quando chegarem a esta página, não podem voltar a folha; durante a segunda parte, não podem responder a perguntas a que não responderam na primeira parte. Querem perguntar alguma coisa? Fui claro(a)?”. Além destas preciosas recomendações, há dezenas de observações repetidas sobre os apara-lápis, as canetas, o papel de rascunho, as janelas e as portas da sala. Tal como um GPS (“Saia na saída”), o Manual do Aplicador não esquece de recomendar ao professor que leia em voz alta: “Escrevam o vosso nome no espaço dedicado ao nome”. Finalmente: “Mande sair os alunos, lendo em voz alta: Podem sair. Obrigado(a) pela vossa colaboração”!
A LEITURA destes manuais não deixa espaço para muitas conclusões. Talvez só duas. A primeira: os professores são atrasados mentais e incompetentes. Por isso deve o esclarecido ministério prever todos os passos, escrever o guião do que se diz, reduzir a zero quaisquer iniciativas dos professores, normalizar os procedimentos e evitar que profissionais tão incapazes tenham ideias. A segunda: a linha geral do ministério, a sua política e a sua estratégia estão inteiras e explícitas nestes manuais. Trata os professores como se fossem imaturos e aldrabões. Pretende reduzi-los a agentes automáticos. Não admite a autonomia. Abomina a iniciativa e a responsabilidade. Cria um clima de suspeição. Obriga os professores a comportarem-se como “robots”.
A ser verdadeira a primeira hipótese, não se percebe por que razão aquelas pessoas são professores. Deveriam exercer outras profissões. Mesmo com cinco, dez ou vinte anos de experiência, estes professores são pessoas de baixa moral, de reduzidas capacidades intelectuais e de nula aptidão profissional. O ministério, que os contratou, é responsável por uma selecção desastrada. Não tem desculpa.
Se a segunda for verdade, o ministério revela a sua real natureza. Tem uma concepção centralizadora e dirigista da educação e da sociedade. Entende sem hesitação gerir directamente milhares de escolas. Considera os professores imbecis e simulados. Pretende que os professores sejam funcionários obedientes e destituídos de personalidade. Está disposto a tudo para estabelecer uma norma burocrática, mais ou menos “taylorista”, mais ou menos militarizada, que dite os comportamentos dos docentes.
O ANO lectivo chega ao fim. Ouvem gritos e suspiros. Do lado, do ministério, festeja-se a “vitória”. Parece que, segundo Walter Lemos, 75 por cento dos professores cumpriram as directivas sobre a avaliação. Outras fontes oficiais dizem que foram 57. Ainda pelas bandas da 5 de Outubro, comemora-se o grande “êxito”: as notas em Matemática e Português nunca foram tão boas. Do lado dos professores, celebra-se também a “vitória”. Nunca se viram manifestações tão grandes. Nunca a mobilização dos professores foi tão impressionante como este ano. Cá fora, na vida e na sociedade, perguntamo-nos: “vitória” de quem? Sobre quê? Contra quem? Esta ideia de que a educação está em guerra e há lugar para vitórias entristece e desmoraliza. Chegou-se a um ponto em que já quase não interessa saber quem tem razão. Todos têm uma parte e todos têm falta de alguma. A situação criada é a de um desastre ecológico. Serão precisos anos ou décadas para reparar os estragos. Só uma nova geração poderá sentir-se em paz consigo, com os outros e com as escolas.
OLHEMOS para as imagens na televisão e nos jornais. Visitemos algumas escolas. Ouçamos os professores. Conversemos com os pais. Falemos com os estudantes. Toda a gente está cansada. A ministra e os dirigentes do ministério também. Os responsáveis governamentais já só têm uma ideia em mente: persistir, mesmo que seja no erro, e esperar sofridamente pelas eleições. Os professores procuram soluções para a desmoralização. Uns pedem a reforma ou tentam mudar de profissão.
Outros solicitam transferência para novas escolas, na esperança de que uma mudança qualquer engane a angústia. Há muitos professores para quem o início de um dia de aulas é um momento de pura ansiedade.
Foram milhares de horas perdidas em reuniões. Quilómetros de caminho para as manifestações. Dias passados a preencher formulários absurdos.
Foram semanas ocupadas a ler directivas e despachos redigidos por déspotas loucos. Pais inquietos, mas sem meios de intervenção, lêem todos os dias notícias sobre as escolas transformadas em terrenos de batalha. Há alunos que ameaçam ou agridem os professores. E há docentes que batem em alunos. Como existem estudantes que gravam ou fotografam as aulas para poderem denunciar o que lá se passa. O ministério fez tudo o que podia para virar a opinião pública contra os professores. Os administradores regionais de educação não distinguem as suas funções das dos informadores. As autarquias deixaram de se preocupar com as escolas dos seus munícipes porque são impotentes: não sabem e não têm meios. Todos estão exaustos. Todos sentem que o ano foi em grande parte perdido. Pior: todos sabem que a escola está, hoje, pior do que há um ano."
António Barreto in "Retrato da Semana", Público 24 de Maio de 2009