Mário Soares
Guantánamo? Repito Talleyrand: é pior do que um crime; é um erro. Não é apenas a imoralidade do que ali se pratica que incomoda uma alma liberal. É, sobretudo, a inutilidade da coisa: em seis anos, os resultados foram pífios. Isto, que é dizer tudo, não chega para o dr. Mário Soares. Em conferência organizada pela Ordem dos Advogados, o dr. Soares resolveu subir um degrau e declarar Guantánamo tão infame quanto os campos de concentração nazis.
Verdade que o dr. Soares tem tido uma velhice assaz bizarra. Mas mesmo pelos padrões recentes do cavalheiro, a frase surpreende. Surpreende, desde logo, porque o dr. Soares não parece informado sobre o que foram os campos de concentração nazis: máquinas de extermínio que não procuravam extrair informação de suspeitos de terrorismo; pretendiam, simplesmente, liquidar os inimigos do Reich, sobretudo judeus, tarefa que a máquina cumpriu com arrepiante eficácia. Em Guantánamo, existirão trezentos indivíduos. Nos campos nazis, morreram seis milhões de judeus. Comparar Guantánamo a Auschwitz, por exemplo, talvez faça as delícias de um lunático. Não devia fazer as delícias do dr. Mário Soares.
Sobra a hipótese, altamente provável, de o dr. Soares ter cedido à hipérbole, perfeitamente consciente da natureza aberrante e até ofensiva da comparação. Mas, se assim é, lamenta-se que o dr. Soares considere Guantánamo "o caso mais nefasto de um atentado consciente aos direitos humanos em larga escala e sem perdão", esquecendo-se de outras pocilgas morais e humanas que transformam Guantánamo numa espécie de Clube Med. De repente, e assim só de cabeça, eu sou capaz de lembrar o Darfur. A Somália. O Zimbabwe. Os gangsters de Burma. Toda a Coreia do Norte. A Eritreia. A Guiné Equatorial. E, escusado será dizer, a prisão colectiva que está ao lado de Guantánamo e que não parece comover o humanismo do dr. Soares. Nenhum destes poisos está na mão dos americanos? Facto. Mas isso não devia ser motivo para o dr. Soares os discriminar."
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Tens um desafio à tua espera...
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