domingo, 17 de novembro de 2013

The quiet noise-maker


Scott Matthew visitou novamente Portugal, o seu país preferido para actuar (palavras suas, ontem) e onde mantém contactos privilegiados (Rodrigo Leão é um dos nomes mais falados). É curioso como venho ouvindo isto por parte dos mais variados artistas, nos últimos tempos. Em época de crises este é um ponto positivo desde que seja verdadeiro e, diz-me o bom senso, tem sido o caso. Adiante. Na bagagem trouxe a sua voz estranha, e a sua personalidade de um "quiet noise-maker", como se descreve. Scott encaixa no universo de intérpretes com vozes "estranhas" onde encontra a companhia de Micah P. Hinson, Antony Hegarty, Will Oldahm ou Tom Waits. Vozes diferentes, mais difíceis de domar mas, também por isso, mais fascinantes e interessantes. Em 2008, com o álbum homónimo conquistou público e agarrou a crítica; em 2009, com o segundo álbum de originais "There is an Ocean That Divides", manteve e reafirmou o seu espaço no universo musical; e em 2011 com "Gallantry's Favorite Son" reforça a sua posição de next big thing na cena indie. E com razão.
Ontem, Scott trouxe "Unlearned", o seu novo álbum, onde o músico reinventa, com a sua linguagem, gramática instrumental (ukelele, piano, guitarra) e voz... agridoce, algumas das suas canções favoritas como "Harvest Moon" (Neil Young), "No Surprises" (Radiohead), o inesperado "To Love Somebody" (Bee Gees (!)), "Smile" (de Charlie Chaplin, uma verdadeira surpresa pois desconhecia totalmente este facto) e outras. Da selecção de "Unlearned", destaco duas faixas que me fazem, de formas diferentes, viver alguma nostalgia: "Annie's Song" de John Denver (que comecei a ouvir nos discos possíveis que tinha em casa, bastante criança) e "Darklands" dos Jesus & Mary Chain (que me fez regressar a 1988, ao pavilhão do Belenenses, numa noite inesquecível). Ontem, só a primeira foi interpretada (e como!).
Foi um concerto quase em família, verdadeiramente intimista, com a sala 2 da Casa da Música a ver a sua capacidade pela metade. Scott Mathew teve noite difícil com o banco que lhe deram e noite fácil com o público que enfrentou o frio para procurar o calor da sua companhia. Pelo meio, a mais bela versão de "Love will tear us appart" (prepara-se para ser das canções mais recriadas pelos mais diferentes nomes) que já ouvi; silêncios que significaram muito; um regresso breve a "Gallantry's Favorite Son"; e um Scott a prometer outro tipo de degustação do nosso vinho, no final do concerto. A noite avançava, o banco foi-se resolvendo com afinações constantes e a relação connosco foi-se tornando cada vez mais próxima. Foram autênticos e naturais os diálogos que manteve com o público entre faixas. Tal era o à vontade vivido que o público nem se importava de esperar uns minutos para que fossem ensaiar um tema ("Language") que não estava previsto no 1º encore! Não foi necessário e "Language" foi tocada.
No final, palmas sinceras e prolongadas por quem tinha estado ali, com prazer visível, cheio de sentimento, deixando vontades de repetir a dose: é que a qualidade, a sinceridade e a simplicidade são, cada vez mais, produtos em falta neste Portugal da troika.

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