quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Silêncios que gritam

Marina Abramovic é uma artista plástica de origem sérvia. Nos idos anos setenta viveu uma intensa relação de cinco anos, com Ulay (Uwe Laysiepen). Excessiva, na vida como nas suas obras, viveu com Ulay um daqueles amores cheios e únicos. Separaram-se na muralha da China após terem concluído que o que os mantinha juntos se havia transformado. “That walk became a complete personal drama. Ulay started from the Gobi Desert and I from the Yellow Sea. After each of us walked 2500 km, we met in the middle and said good-bye.(...) We needed a certain form of ending, after this huge distance walking towards each other. It is very human. It is in a way more dramatic, more like a film ending… Because in the end you are really alone, whatever you do”. Durante vinte e três anos não se viram. Até que, em 2010, o MOMA homenageou a obra da artista. Ao longo de mais de setecentas horas, aconteceu o "The artist is present", onde qualquer pessoa se sentava, em silêncio, à frente da artista, durante cerca de um minuto. Uma das pessoas foi Ulay. Este é o vídeo do seu reencontro. Há silêncios que gritam.


Uma versão da história pode ser lida aqui e foi produzido um filme/documentário intitulado "Marina Abramović: The Artist is Present", que tive o prazer de ver * ontem à noite. 


*sugestão de link com muita coisa interessante.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Melodias que me fizeram...

Elliott Smith - Easy Way Out
Festival Yo-Yo A Go-Go - 17.07.1999

You'll take advantage 'til you think you're being used
'Cause without an enemy your anger gets confused
I got stuck on the side you know I never chose
But it's all about taking the easy way out for you I suppose

There's no escape for you except in someone else
Although you've already disappeared within yourself
The invisible man who's always changing clothes
It's all about taking the easy way out for you I suppose

While I watch you making mistakes
I wish you luck, I really do
With the problem, with the puzzle
Whatever's left of you

I heard you found another audience to bore
A creative thinker who imagined you were more
A new body for you to push around and pose
It's all about taking the easy way out for you I suppose
It's all about taking the easy way out for you I suppose

Sorriso do mês

Porque é bom lembrar que um dia também soubemos ter prazer com estas pequeninas coisas (andar de comboio pela primeira vez, por exemplo). E por saber que tal medida de deslumbramento já perdemos há muito. O sorriso do mês.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Gula animal

E se os animais se alimentassem apenas de fast food? Produzido para o 2013 Stuttgart Festival of Animated Film, “What If Wild Animals Ate Fast Food” pretende satirizar o óbvio. Desta forma, a  mensagem chegará, de certeza, mais longe.


 (os crocodilos são o máximo)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Ao som de teclas

Durante uma hora e quarenta e cinco minutos estive com Brad Meldhau & Kevin Hays Duo, na Casa da Música. A opção de tocar a frio, sem qualquer amplificação, tornou clara a vocação acústica da sala Suggia, e a experiência de hoje ainda mais saborosa. Brad Meldhau, para muitos o melhor pianista de Jazz da actualidade, passeou o seu virtuosismo. Kevin Hays acompanhou-o em plano semelhante. Por entre alguma improvisação, repetiram sobretudo as melodias de Modern Music, o mais recente trabalho deste duo. Um deleite e uma verdadeira lição de cavalheirismo de dois dos melhores pianistas da música contemporânea...ao som de teclas e silêncios.

Brad Meldhau & Kevin Hays - "String Quartet No. 5" de Philip Glass
Modern Music (2011)

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Melodias que me fizeram...

Massive Attack - "Protection"

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Sem tempo

A mão
que entregava à tua
os primeiros sinais do verão
já não sabe o caminho ─ é como se
em vez de aprender fosse cada vez mais
e mais ignorante. Ou ignorar
fosse todo o saber.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Meet Sugru

Aqui

Fotógrafa 'no' povo


Vivian Maier foi uma mulher misteriosa. Há quem a descreva recorrendo às célebres palavras de Churchill: um quebra cabeças, embrulhado em mistério, dentro de um enigma. ("a riddle, wrapped in a mystery, inside an enigma"). Viveu na segunda metade do século que passou e, quando não estava a ser ama,  dava uso à sua sensibilidade única para registar o que a rodeava. Durante anos levou uma vida tranquila a fotografar e filmar as ruas das cidades por onde passou (sobretudo Chicago e Nova Iorque). É descoberta por puro acaso quando, em 2007, John Maloof, um jovem historiador e amador da fotografia, comprou num leilão, dois lotes de um fotógrafo desconhecido. Eram os cem mil negativos e os setecentos rolos por revelar da fotógrafa Vivian Maier. De repente, o mundo da arte fotográfica descobre imagens únicas e de qualidade e sensibilidade ímpares. A introvertida Maier tornou-se no que sempre rejeitou ser: um grande fenómeno de popularidade. São múltiplas as exposições, blogs, livros e, agora, um documentário ainda em fase de conclusão. As muitas questões que se levantam acerca da vida de Vivian Maier e do porquê de sempre ter escondido a sua paixão, bem como outras características "diferentes" da sua vida, deverão ter alguma resposta em "Finding Vivian Maier", com realização do próprio Maloof e de um menos desconhecido Charlie Siskel. Enquanto o documentário não chega, restam as belas imagens das cidades americanas da segunda metade do século XX, pelos olhos de uma das maiores fotógrafas urbanas de sempre.




terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Coisas que saúdo

Finalmente! Saúdo o aparecimento de Johnny Marr, a alma melódica dos The Smiths, em projecto a solo. Recordo-me de, na fase pós The Smiths, o ver em palco com Matt Johnson, outra alma solitária da música, naquele que foi dos primeiros concertos do projecto The The, em Julho de 89 no Coliseu dos Recreios. Partia aí para uma carreira polvilhada de participações avulsas (The The, Electronic, Cribs, Modest Mouse), procurando o seu caminho, resistindo às imensas pressões para que os The Smiths se reunissem. Resistiu. Registo e partilho as palavras de Davide Pinheiro, a propósito de The Messenger que será editado no próximo dia 25: "(...) é de resistência que Messenger trata. A resistência de quem preferiu sempre olhar para o conta-quilómetros do que para o retrovisor. A resistência de um som rasgado e ácido que nunca perde de vista a canção.".

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Tocante

"Hallelujah", o original de Leonard Cohen, ao som de cristal.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Tonight we flew (!)

The Divine Comedy - Tonight we fly
Ao vivo no Palladium,London, em 2003

Tonight we fly
Over the houses, the streets and the trees -
Over the dogs down below;
They'll bark at our shadows
As we float by on the breeze.
Tonight we fly
Over the chimney tops, skylights and slates -
Looking into all your lives
And wondering why
Happiness is so hard to find.
Over the doctor, over the soldier,
Over the farmer, over the poacher,
Over the preacher, over the gambler,
Over the teacher, over the writer,
Over the lawyer, over the dancer,
Over the voyeur,
Over the builder and the destroyer,
Over the hills and far away!
Tonight we fly
Over the mountains, the beach and the sea
Over the friends that we've known,
And those that we now know
And those whom we've yet to meet.
And when we die
Oh, will we be that disappointed or sad?
If heaven doesn't exist,
What will we have missed?
This life is the best we've ever had!

Ilustrando

Versão short film sobre o fascinante mundo da ilustração gráfica, a arte que vai aonde a fotografia não chega, via PBS Arts.

Genial, quando menos é mais!

Visto aqui.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Melodias que me fizeram...

Radiohead - "The Headmaster Ritual" - (versão original: The Smiths)

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Pós renúncia

Um raio atingiu o coração do Vaticano  horas após a surpreendente decisão de Bento XVI. Considere-se a metáfora e vejam-se as imagens. Para memória futura.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Sim, melodias que me fizeram e farão...

Jeff Buckley - A Satisfied Mind

How many times have you heard someone say,
"If I had money, I would do things my way."
But little they know, that it's so hard to find
one rich man in ten, with a satisfied mind.

Money can't buy back all your youth when you're old,
a friend when you're lonely, or peace to your soul.
The wealthiest person, is a pauper at times
compared to the man with a satisfied mind.

When my life is over and my time has run out,
my friends and my loved ones, I will leave there's no doubt.
But one thing's for certain, when it comes my time,
I'll leave this old world with a satisfied mind.
One thing's for certain, when it comes my time,
I'll leave this old world with a satisfied mind mind mind, mind mind,
satisfied mind.

Contra-egoísmo

Filtrando alguma carga excessivamente religiosa, é mais um texto de J. Luís Martins no "Jornal i", que aprecio pelo potencial que tem enquanto catalisador de reflexões. Uma das razões para a manutenção da leitura deste periódico ao sábado. Sem dúvidas!

"Cada vez mais pessoas estão preocupadas consigo mesmas. Cuidam de si de uma forma tão dedicada que se poderia supor que estão a construir algo de verdadeiramente belo e forte; mas não... os resultados são normalmente fracos e frágeis. Gente manipulável que se deixa abater por uma simples brisa... cultivam o eu como a um deus, mas são facilmente derrubados pela mínima contrariedade.

Tendo a originalidade por moda não será paradoxal que a sociedade esteja a tornar-se cada vez mais uniforme? Como a multidão tende sempre a nivelar-se por baixo, estamos a tornar-nos cada vez piores.

Hoje parece não haver tempo nem espaço para um cuidado mais fundo com a nossa essência – são poucos os que hoje têm amigos verdadeiros com quem aprendem, a quem se dão e de quem recebem valores essenciais.

Por medo da solidão quer-se conhecer gente, cada vez mais gente. Talvez o facto de se buscar uma quantidade de amizades mais do que a qualidade das mesmas explique por que, afinal, há cada vez mais solidão... sempre que prefiro partir em busca do novo, escolho abandonar aquele(s) com quem estava.

O sucesso das redes virtuais é hoje um sintoma, um resultado, do mal estar fundo de quem se sente só, de quem busca o encontro com o outro, mas não quer ir até à sua presença; de quem busca palavras de apoio, mas não está disposto a abrir-lhes o seu coração e a escutá-las intimamente... perdem-se horas, dias e anos assim. Parece um exército de eremitas narcisos. Se precisam tanto do outro, porque se deixam ficar atrás do teclado? Longe do braço e do abraço do amor do outro?

A vaidade não eleva o sujeito, afoga-o. Sucumbe porque lhe falta a ligação vital ao outro, essa humildade que engrandece, essa pobreza que nos faz ricos através do sorriso do outro.
O amor é uma espécie de compromisso com a felicidade do outro. A vontade e o empenho real pelo bem do próximo. Um contra-egoísmo. Esqueça-se a auto-estima, o amor próprio ou a auto-ajuda... amar é esquecer-se de si. Deixar-se para trás. Mais adiante, virá a lúcida consciência de que é só quando me dou genuína e gratuitamente que me encontro. Que preciso de sair de mim para, através do outro, ver como sou. Ali, paradoxalmente, longe do espelho. Onde as palavras importantes se escutam com os ouvidos e os sorrisos verdadeiros são dados olhos nos olhos.
A sociedade está progressivamente mais pobre, com gente que, ao invés de ter uma interioridade autónoma capaz de sonhar e de lutar por um caminho seu, tem por alma uma mera caixa de reação aos contextos, previsível, estável... triste. Muito.

Só uma revolução das vontades fundas, uma tomada do poder individual das dimensões mais livres e criativas do homem, poderá inverter esta tendência de degradação essencial da alma humana.
Ninguém se encontra na solidão. Ninguém pode sequer sonhar de forma verdadeira se não tem com quem partilhar os seus desejos íntimos. Ninguém chegará sequer perto da felicidade se não viver abraçado a alguém. Ninguém se completa a si mesmo. Ninguém se basta.

O egoísta e o vaidoso não percebem que a nossa felicidade não passa por cuidarmos de nós mesmos, mas dos outros. Que só esquecendo-nos de nós e entregando o melhor de nós mesmos conseguiremos permanecer para sempre naqueles a quem assim amámos.
Ser é amar, e amar é dar-se.
(...)"

José Luís Nunes Martins, in Jornal i, 09.02.2013

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Melodias que me fizeram...

Elliott Smith - "Between the Bars"

Drink up baby, stay up all night
With the things you could do
You won't but you might
The potential you'll be that you'll never see
The promises you'll only make
Drink up with me now
And forget all about the pressure of days
Do what I say and I'll make you okay
And drive them away
The images stuck in your head

The people you've been before
That you don't want around anymore
That push and shove and won't bend to your will
I'll keep them still

Drink up baby, look at the stars
I'll kiss you again between the bars
Where I'm seeing you there with your hands in the air
Waiting to finally be caught
Drink up one more time and I'll make you mine
Keep you apart, deep in my heart
Separate from the rest, where I like you the best
And keep the things you forgot

The people you've been before
That you don't want around anymore
That push and shove and won't bend to your will
I'll keep them still

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Estranho ímpar


Eu desconfiava:
todas as histórias em quadrinho são iguais.
Todos os filmes norte-americanos são iguais.
Todos os filmes de todos os países são iguais.
Todos os best-sellers são iguais.
Todos os campeonatos nacionais e internacionais de futebol são
iguais.
Todos os partidos políticos
são iguais.
Todas as mulheres que andam na moda
são iguais.
Todas as experiências de sexo
são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e rondós são iguais
e todos, todos
os poemas em versos livres são enfadonhamente iguais.

Todas as guerras do mundo são iguais.
Todas as fomes são iguais.
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Iguais todos os rompimentos.
A morte é igualíssima.
Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indiferentes, são iguais.
Contudo, o homem não é igual a nenhum outro homem, bicho ou
coisa.
Não é igual a nada.
Todo ser humano é um estranho
ímpar.

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Aviões de papel

Como se o destino fosse o motor de algo bem maior... Paperman, um projecto Disney com sabor retro, às voltas com uma descoberta... Delicioso?! É dizer pouco.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Ao soltar o perfume da terra


Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013