quarta-feira, 22 de junho de 2011

Todos os dias são meus

Fernando Pessoa por Pedro Lamares
Depois de eu morrer, se quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples
Só tem duas datas — a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma coisa e outra, todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as cousas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.
                                                                                    A. Caeiro

1 comentário:

Clarice disse...

Alberto Caeiro é "dos" pessoas que eu mais gosto!
bj