quarta-feira, 15 de junho de 2011

Lágrimas ocultas


Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

                                                   Florbela Espanca

2 comentários:

Bárbara M. disse...

...e as lágrimas escondem-se pr debaixo da ponte que funcionam como olhos. Lindo, tudo. Beijo

Jill disse...

"há lágrimas que são como segredos: não se vêm, tal é a forma como estão guardados..."