terça-feira, 22 de março de 2011

Caixa de recordações

Bilhete que saiu da caixa
Caixas com pedaços do passado. Caixas que me fizeram recordar e sorrir com pedaços do passado. Revi alguns este fim-de-semana.
Contracapa de "Tutu"
Estava-se em 1989. Ano dos Da Vinci a representar o país no festival da canção; do Grande prémio de F1 no Estoril (que tive, também, a felicidade presenciar); ano em que os meninos do agora proscrito Carlos Queirós davam que falar ao sagrarem-se, pela primeira vez, campeões do mundo de juniores em Riad. Na chefia do governo estava um senhor que agora é Presidente da República e que age como se nunca tivesse tido outro tipo de responsabilidades. Adiante, que a música aqui é outra.
Pela segunda vez Miles Davis visitava Portugal. A primeira tinha sido na versão inaugural do Cascais Jazz, em 1971. Dezoito anos depois, regressaria para tocar no Coliseu dos Recreios. Numa altura em que 1800 escudos (9€) era dinheiro muito caro, arranjei forma de ir ver a lenda do trompete, que promovia Tutu, álbum que merecia a crítica dos puristas que não entendiam e criticavam as divagações do trompetista por zonas sonoras pouco jazzística. Tutu que ficou marcado pela produção de um enorme baixista, chamado  Marcus Miller, que infelizmente não acompanhou o músico neste concerto embora as suas linhas rítmicas tenham estado presentes pelos dedos de outro baixista superlativo.
Recordo-me de um Miles Davis a dar as costas ao público, num movimento que se tornou habitual, a caminhar num palco por ele desenhado no intervalo dos seus devaneios pela pintura, com uns exagerados óculos escuros, murmurando mais do que o habitual, na sua voz cavernosa. Deambulante, actor, cheio de si e excelente numa forma de arte que aprendeu a dominar: a gestão dos silêncios. Recordo-me de um flautista único, de nome Kenny Garrett. Recordo-me do trompete de Miles, que se encontrava por vezes com o abafador, num movimento de cumprimento constante, em homenagem à  música e a quem ali estava. E recordo-me e sempre hei-de lembrar-me de um baixista extraordinário, de nome Joseph “Foley” McRearyque me encheu a alma de forma que jamais esquecerei. Nunca mais ouvi tocar viola baixo daquela forma. E nunca mais me esquecerei desse monumental momento em Lisboa, nos idos anos do final da década de oitenta. Boxes will be boxes but some boxes...

2 comentários:

Carlos Lopes disse...

Ganda malha, como costuma dizer o meu amigo Artur Carvalho. Eu sou daqueles que acha que a inveja pode ser um sentimento bom ;-)

Jorge A. Roque disse...

Velho e bom amigo, ter comentários destes vindos de quem vem, fazem-me sentir o português mais rico do rectângulo. E olha que nestes tempos de penúria isto tem ainda mais valor. Grande abraço.