quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Colcheias, semínimas e breves notas de 2015



Dos momentos musicais do ano, destaco dez, de acordo com o critério do alfabeto. Se tivesse de relevar um álbum, seria o de Sufjan Stevens, pela forma sincera como embala sentimentos. Assim foi 2015.

Benjamin Clementine- “At Least for Now” Django Django - “Born Under Saturn”
Joanna Newsom - “Divers” 
Julia Holter - “Have You In My Wilderness”
Kurt Vile - “b'lieve i'm goin down…”
Rodrigo Leão, Orquestra Gulbenkian & Coro Gulbenkian - "O Retiro"
Sufjan Stevens - “Carrie & Lowell”

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Melodias que me fizeram

Tindersticks - "A night In" (2013)

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Tipos e letras


Na questão da legibilidade de textos, o tipo (letra) utilizado é um fator determinante mas muitas vezes ignorado. É isto que nos diz Errol Morris neste artigo, obrigatório para quem gosta destas coisas de design gráfico.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

sábado, 28 de novembro de 2015

Descalço vai para o palco

©iPhone
O poeta e pianista, de apenas 26 anos de idade, Benjamin Clementine, proporcionou um belo momento na última quarta feira na Casa da Música. Um momento que se revelou curto mas o repertório ainda é, infelizmente, limitado em número. Foi um desempenho cru, honesto e apaixonado, onde as suas experiências de vida (ouvindo temas autobiográficos como "Cornerstone", por exemplo) estiveram sempre presentes na sua mente e na de todos aqueles que conhecem a sua fascinante estória de vida. Com uma adolescência difícil, viveu como sem abrigo nas ruas de Paris e foram somas de acasos e graças do destino que o transportam agora para as maiores casas de espetáculo do mundo. Olha-se para este homem, observa-se o palco, e é fácil visioná-lo no início da sua carreira. Sentado diante de nós sob um único holofote, com um longo casaco escuro, sem camisa e descalço. De forma consciente ou não, percebemos outros espaços para além daquele palco. A aparência humilde e a postura (genuína, creio), obriga ao enfoque daquilo que interessa e tem maior importância: a música e a sua mensagem. Em conformidade com esta imagem, Clementine vai explicar que, ao contrário do ditado "tempo é dinheiro", ele acredita que "o tempo não tem tempo para o dinheiro". Explica-nos num sussurro . Esta é outra constante nos seus concertos: a forma como murmura as palavras para a audiência. Como se ele próprio ignorasse ou não percebesse ainda o que lhe aconteceu e como está ele ali, perante 1200 almas que o vêm ouvir e ver. É um murmúrio de humildade, quase vergonha. Mesmo sendo de poucas palavras, vai dizendo “obrigado” e que “não há muito a dizer, exceto obrigado”. E pouco mais.
Quando canta a sua voz é bem diferente. A crítica, na sua tentativa de interpretação de Benjamin, compara-o a outros grandes nomes da música. Antony Hegarty e Nina Simone são frequentemente citados. A mim também me lembra Nick Drake, Scott Walker, Elliot Smith, Ethel Merman ou o enorme Jeff Buckley. Pois, ao vê-lo, percebi que, de alguma forma, Clementine consegue invocar todos esses espíritos e destilá-los numa voz rara, distinta e autoral. Ao que junta uma capacidade única (Jeff Buckley também a tinha) de saber incorporar os silêncios nos temas que vai interpretando. Acompanhado ocasionalmente por um impressionante baterista, o francês Alexis Bossard (uma combinação habitual para músicos de Jazz mas incomum fora deste registo), o espetáculo é a recriação dos temas do seu único álbum, "At least for now". E confirma-se que a música que faz é indefinível, única, e complicada de colocar ao abrigo de qualquer género. E faz parte do enigma de tentar perceber quem é aquele homem que ali está. Música errática na forma e no conceito. Tão depressa, como em “Gone”, surgem fluxos de palavras gritadas que se derramam no curso de uma cascata de notas acidentais; como surgem os sussurros e as temporizações dos silêncios que, estranhamente, soam nítidos na sala. Em “Cornerstone” afirma, “I am lonely, alone in a box of stone/They claim they loved me but they [are] all lying”... Em Riverman recupera um original de Nick Drake, e homenageia aquele que é um dos mais incompreendidos e esquecidos autores dos finais do século passado. Também por isso lhe fico agradecido. Ainda a começar a carreira, Benjamin Clementine tem já algo que o distingue de muitos outros e o tornam especial. Percebeu um dos grandes mistérios da humanidade, o da inevitável e essencial tristeza na vida!
No final dos temas previstos (um “fósforo” que foi), a ovação foi de pé, em jeito de solicitação para um regresso ao palco. O que aconteceu, tendo tocado mais dois temas. No fim, levantou-se, baixou a tampa do teclado do piano e...desapareceu.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

"That day might be today"

A noite foi mágica e o responsável foi Benjamin Clementine.  Aqui em versão parisiense.

Benjamin Clementine "Winston Churchill's Boy" @ Alive France Inter (Paris)

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Uma Moka(Cam)

A MokaCam (o nome podia ser mais feliz) tem características singulares que, em quase tudo, ultrapassam as da GoPro e tornam-na no gadget a ter debaixo de olho nas próximas semanas. Está em fase de angariação de fundos no IndieGoGo, mas não duvido que o objetivo será alcançado. E fevereiro está já aí...




segunda-feira, 23 de novembro de 2015

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A propósito de estupidez


Já com umas semanas mas com toda a atualidade, vale a pena passar um tempo neste trabalho da BBC2 que analisa o funcionamento do exército islâmico. 

Sobre os ataques de Paris

Nota para memória futura acerca da barbárie de Paris. Infelizmente, esta memória futura vai continuar a repetir-se porque a estupidez e a maldade daquela espécie de gente que integra o ISIS, EI, DAESH, ou lá o que é, não tem limites.  

Luc Descheemaecker‎ - Bélgica


Hadi Asadi - Irão
 
Jitet Kostana-Indonesia

Sólidos maleáveis

José Manuel Castro Lopez é um escultor galego que trabalha com rochas e pedras, dando-lhes um aspeto orgânico e maleável. O realismo da transformação dos estados, do sólido para o maleável, é altamente verosímil e é aí que reside o seu crescente sucesso.






terça-feira, 10 de novembro de 2015

Melodias que me fizeram...

Satellite Of Love - Lou Reed (1972)

terça-feira, 3 de novembro de 2015

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

New Life...

Depeche Mode - "New Life" (1981)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Melodias que me fizeram...

The Kinks - "Last of the Steam Powered Trains" (1968)

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Facebook...

...e a sua mais perfeita definição.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Finalmente


Chegou, finalmente. Resta esperar por uma grelha interessante e atual.

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Melodias que me fizeram...

David Bowie - "Suffragette City" (1976)

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Gosto

E quando crianças americanas provam comida de outros países?

Coisas que saúdo

Até aparecer no programa de Jools Holland, Benjamin Clementine era mais um ilustre desconhecido. Foi este o momento de viragem de um cantautor cuja vida está longe de ser banal, (ver reportagem de O Público). E longe da banalidade anda o seu registo vocal e melódico, como prova o seu único trabalho (ainda) editado, intitulado "At Least For Now". Perfeito para o outono que se aproxima.

Benjamin Clementine - "Cornerstone"
(Later... with Jools Holland-BBC2)

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Quando o futuro nunca é o que se antecipa

Eis como, em 1900, alguns artistas franceses pensavam que seria a vida no ano 2000. Mais imagens aqui.


Catecismos


Via Giphy.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Melodias que me fizeram...

Aztec Camera - "Just like the USA" (1984)

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Coisas que saúdo


Quando termina lamenta-se a brevidade dos quatro episódios.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Férias

Eis que chegam. Falta partir.


"Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas
E toda a realidade é um excesso, uma violência,
Uma alucinação extraordinariamente nítida
Que vivemos todos em comum com a fúria das almas,
O centro para onde tendem as estranhas forças centrífugas
Que são as psiques humanas no seu acordo de sentidos."

Álvaro de Campos

sábado, 1 de agosto de 2015

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Melodias que me fizeram...

The Specials - "You're Wondering Now"  (1979)

sábado, 18 de julho de 2015

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Encantos


Dois eventos que já deviam ter espaço aqui e têm visto adiado o seu registo: os concertos de Cocorosie e de Lambchop.
O primeiro aconteceu no passado dia 6 deste mês na Casa da Música. As manas Bianca Leilani Casady ("Coco") e Sierra Rose Casady ("Rosie") apresentaram-se em palco com um alinhamento diferente do habitual na medida em que toda a secção rítmica ficou entregue a Tez, um beatboxer que desafia as crenças dos nossos olhos e ouvidos. O que se vê não é necessariamente o que ouvimos tal a quantidade de sons que Tez consegue produzir. O resultado é, no mínimo, de uma economia a toda a prova na medida em que a sua versatilidade basta e evita não só outros elementos da banda como outros instrumentos. Foi apenas mais um elemento de um tempo em que todos os que assistimos fomos transportados para um mundo de fantasia e de faz-de-conta. Os sons de brinquedos, a roupa das intérpretes, o repertório, tudo ali faz sentido mesmo que esteja anos-luz do que se vê e ouve na,  tantas vezes madrasta, realidade. Foi neste ambiente misterioso, entre o circense e as linhas de Lewis Carrol que os temas foram surgindo. O mais recente "Tales Of a Grass Widow" (aguarda-se o sucessor lá mais para o fim do ano) teve particular atenção mas "La maison de mon rêve" e "Grey Oceans" (pena a versão de Lemonade: com tempo diferente não soou nada como deveria ter soado) foram também recordados. O feitiço terminou ao fim de duas horas e três encores. O público, esse, a pedido da banda, levantou-se e terminou a dançar junto das feiticeiras. Sierra, a mana "Rosie" terminou completamente encantada. Eu também!



Já este domingo, os norte-americanos Lambchop tocaram em Vila do Conde, no encerramento do Festival Internacional de Cinema de Curtas. A primeira parte do espetáculo aconteceu em formato filme-concerto, com os Lambchop a musicar um filme de Bill Morrison. A experiência foi interessante e resultou em pleno. "The dockworkers dream", o filme de Morrison, baseou-se em imagens de arquivos de filmes portugueses das décadas de 10 a 30 do século passado. O filme valeu sobretudo pelo valor intrínseco das imagens e menos pela montagem que sofreram. A meu ver,  neste capítulo, o resultado é.... sofrível. Na segunda parte do concerto, a banda de Kurt Wagner apresentou-se no registo habitual, sem sobressaltos de maior (!) e com a rodagem de um relógio suiço. Iniciaram em Vila do Conde uma tourné europeia. Foram eficientes e profissionais. Os seis elementos em palco não falharam uma nota ou deixaram espaço para o improviso durante a atuação. Esse ficou a cargo de algumas conversas entre os elementos do grupo entre faixas. O único senão foi a guitarra de Kurt: das duas que tocou, a sua magnífica Gibson L7 de 1947 quase não se ouvia. Houve reclamações do público mas a resposta de Kurt foi "Looks fine to me"" e assim se passou todo o concerto. A coisa fez menos mossa do que podia ter feito porque o silêncio era total e ouvia-se, ainda assim, o som não amplificado da guitarra mas podia ter sido ainda bem melhor do que foi. E o que se ouviu foi absolutamente maravilhoso. De "Nixon" a "Is a Woman" (o melhor trabalho da banda, para mim), sob a batuta invisível de Kurt, as baladas foram-se sucedendo até terminarem com uma inesperada cover de "Young American", um original de David Bowie. Se calhar não é fácil gostar-se da música dos Lambchop. Às vezes, tanta lamechice pode cansar. Não foi nada o caso. Sempre fui admirador e agora mais ainda. Venha o próximo trabalho deste projeto que está quase a entrar nos trinta anos de idade.

Lambchop

segunda-feira, 6 de julho de 2015

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Não digas nada!


Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender –
Tudo metade
De sentir e de ver…
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada…
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa

terça-feira, 30 de junho de 2015

Pictogramadavida


Via Bright Cube.

Melodias que me fizeram...

The Lilac Time
The Lilac Time- "Girl who waves at trains" (1989)

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Melodias que me fizeram....

Pavement - Brighten the Corners (1997)

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Sons do Primavera 2015

Mac deMarco

Do Primavera Sound 2015 de há uns dias atrás, e para efeitos de memória futura, ficam alguns apontamentos:
.A organização continua a ser irrepreensível e os espaços estão cada vez mais bonitos.
.No primeiro dia de festival, os Interpol deram um dos grandes concertos do evento. Apoiados por um excelente conjunto de imagens que foram sendo projetadas, a banda de Paul Banks soube aproveitar a hora e as vontades de início de festival.
.Horas antes, FK Twigs atuou sem deslumbrar. No mesmo registo, Mac deMarco. Divertido mas pouco mais.
.Patty Smith continua com a genica toda e só lamento não ter conseguido ver a recriação de Horses;
.O 1º dia do festival termina com Caribou a tentar aquecer uma noite bem fria.
.O 2º dia começa com a desilusão Sun Kill Moon. Mark Kozelek ao vivo é mesmo capaz de nunca resultar. Muito menos em ambiente de festival.
.Belle and Sebastian e Antony and the Johnsons cumpriram. O segundo com demasiada parafernália à volta. Decididamente, para mim, os tempos de Antony já foram. É um enjoo este seu repertório mais recente.
.Os grandes destaques deste segundo dia foram para Replacements (nunca imaginei vê-los ao vivo...e Paul Westerberg continua em forma); Spiritualized (à luz das estrelas do palco ATP os seus temas ganham ainda uma dimensão mais bela) e Ariel Pink (um tratado de diversão e energia em palco).
.O último dia do Primavera Sound começou, para mim, com The Thurston Moore Band. Excelente neste seu mais recente alinhamento de músicos.
.Os Foxygen tiveram uma das mais conseguidas atuações dos três dias. Sam France, vocalista e entertainer, esteve sempre eléctrico, a demonstrar por que razão é um dos mais carismáticos frontmen da atualidade. Momentos de altíssima qualidade.
.Outra agradável surpresa, os Dead Cab For Cutie. Magnífico concerto com imensa interação com o público que se mostrou profundo conhecedor dos temas do grupo.
.Os Ride atuaram a seguir e foi um regresso à minha juventude e aos meus tempos em que "fazia rádio". Muitos foram os momentos que os sons de Going Blank Again, Nowhere ou Carnival of Light tocaram na minha "Zona reservada" ou "Feedback". Ao fim de largos anos separados reuniram-se e ainda bem. Deram um belo concerto.
.Espreitei The New Pornographers (outro regresso) e terminei com Underworld, numa altura em que o cansaço começava a ditar as suas leis.
Replacements
The Thurston Moore Band
Foxygen
Foxygen
Ride

domingo, 31 de maio de 2015

Épica

Com sete jogadores portugueses sendo que seis deles foram formados no clube.
Foto jornal Record.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Caixas de som

Ouvir "Darling Arithmetic" dos irlandeses Villagers é confirmar o que Awayland, de há dois anos, de uma forma mais envergonhada e muito menos acústica, nos mostrara. A cadência fácil e melancólica é rainha, o ambiente sonoro é simples e as letras são pequenos pedaços de interessante poesia. Em ouvido de outono encaixa melhor, mas sabe bem mesmo neste início de verão. Ouvir "Darling Arithmetic" é ouvir um dos álbuns do ano.

Villagers - Everything I Am Is Yours (2015)

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Melodias que me fizeram...

Chris Garneau - Blue Suede Shoes (2007)

terça-feira, 19 de maio de 2015

"chuva dessa nuvem"

Quem ama a liberdade conhece que é idêntica
a verdade e a não-verdade o ser e o vazio
e por isso na sua celebração a metáfora expande-se
na liberdade de ser a ténue sabedoria
desse momento e só desse momento em que o arco cresce
Há então que procurar a chuva dessa nuvem
ou desdizê-Ia não para o nosso olhar
mas para um outro rosto de areia que cresce no vazio
e poderá ser de pedra ou de ouro ou só de uma penugem
O poema é o encontro destas duas faces
de nenhuma substância quando no vazio do céu
os anjos se diluem com as mãos despojadas

A. Ramos Rosa

terça-feira, 12 de maio de 2015

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Sons novos

Sufjan Stevens - "Death With Dignity" (2015)

domingo, 3 de maio de 2015

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Melodias que me fizeram...

The Rolling Stones-"Wild Horses"

terça-feira, 28 de abril de 2015

Estado de terror

A propósito do "autoproclamado" Estado Islâmicoum artigo para se perceber como se movimentam, o que querem, como funcionam e como angariam fundos. Só não explica o que não tem explicação: a estupidez que tresanda daquelas bandas.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Coração máquina


Foi um privilégio assistir, numa era em que os sons minimais, ainda que eletrónicos, soam pouco trendy, ao concerto dos históricos Kraftwerk. O privilégio resulta da consciência da génese: os sons seminais da música eletrónica (e não só) estavam ali e muita da música que ouço hoje provém da influência clara destes senhores que se apresentaram em palco como sempre me habituei a ver em imagens de revistas da especialidade ou notícias aqui e ali, do 7ete ao Blitz.

O espetáculo estava anunciado como tendo uma forte componente tridimensional daí que a distribuição de óculos à entrada não espantasse quem se preparava para procurar o seu lugar na sala. Os óculos reproduzem o posicionamento do grupo em caracteres de 8 bits. A estética de 8 bits num mundo de 64 bits é algo que começou por definir o que aconteceu na passada segunda feira na principal sala da Casa da Música. A componente visual será a única forma de tornar apetecível um concerto em que os elementos tocam sintetizadores e teclados mas das diferentes formas de abordar a questão, os produtores do concerto conceberam a ideal. As imagens tridimensionais sucediam-se e espantavam na forma como casavam na perfeição com o registo sonoro que era produzido. O que ouvia era profundamente familiar na medida em que os acompanho desde o início dos anos oitenta. Ainda assim, foi interessante ver (ouver?) como a versão analógica do que conhecia, incrustada na minha mente, foi sobreposta por uma mais clara e definida, mais digital, logo mais robotizada e concordante com o espírito dos Kraftwerk. O grupo de Dusseldorf tem este efeito revelador. Muito do que apresentavam como sendo algo futurístico veio a confirmar-se como realidade presente. Radioactivity (1975) tornou-se uma homenagem a Chernobyl (1986) e a Fukushima (2011); Computer World (1981) funciona como espécie de premonição das atuais redes socias (é uma expressão detestável mas à falta de melhor…) e Autobahn (1974) antecipava o poder e efeito das vias inauguradas pelos alemães na nova sociedade civil. No palco, Ralf Hütter (único elemento do alinhamento original do projeto), Fritz Hilpert, Henning Schmitz, e Falk Grieffenhagen posicionavam-se atrás de pódios futuristas, vestidos com justos fatos pretos pontilhados por traços de luz que ganhavam cor com as alterações dos cenários visuais. Hütter funcionava como líder e acrescentava voz e sons vocais aos temas que emulavam, também eles, a fusão (morphing) entre o homem e a máquina. Mais ou menos a meio do espetáculo, o movimento de cortinas trouxe quatro elementos Kraftwerk robots, evocando The Robots do álbum Man and Machine. Os primeiros segundos ainda trouxeram a dúvida de alguma coreografia mas depois foi a constatação de que se tratavam de meros elementos cénicos e mecânicos. E durante largos minutos os quatro robots, de movimentos básicos, 8 bits, estiveram a gastar as baterias para a plateia que assistia deliciada à sua performance! Memorável. No regresso, o grupo continuou a sua digressão sonora que contemplou os oito trabalhos editados, hipnotizando-nos com as imagens que, sem falhar, ilustravam na perfeição o que se ouvia. Era uma banda visual, em 3D, de uma nostálgica banda sonora. O que fica é a memória de um concerto verdadeiramente único onde a única falha residiu, mais uma vez, na natureza da sala vs natureza do grupo. Os ecos que tive do espetáculo de Lisboa, no Coliseu, apontam para maior interatividade entre o público e o palco. Estar sentado num concerto desta natureza é motivo de lamento mas com lamúrias  destas vivo eu bem.
 



domingo, 19 de abril de 2015

Melodias que me fizeram...

Em aquecimento.

Kraftwerk - "Computer World" (1981)

sábado, 18 de abril de 2015

Menos é mais





Mesa inspirada no monólito do filme "2001-Odisseia no espaço". Via Duffy London. Um sítio cheio de coisas bonitas.