segunda-feira, 17 de novembro de 2014

"Night noises are my noises" *


No último sábado testemunhei o regresso de Will Oldham, aka Bonnie "Prince" Billie, aos palcos portugueses. Há três anos atuou no C.C. Vila Flor em Guimarães, por alturas do lançamento de "Wolfroy Goes To Town". Agora, apresentou-se no espaço GNRation (espaço muito interessante e a ter em consideração, tal a qualidade da programação), em Braga, com Matt Sweeney (guitarra), Emmet Kelly (guitarra), David Ferguson (contrabaixo) e Van Campbell (bateria). Como quase sempre, os músicos que o acompanham resultam num pouco habitual alinhamento: com exceção de Kelly, todos os outros colaboram a espaços com Bonnie e é raro estarem juntos em palco. Também por isso a noite foi especial. O pretexto foi a promoção de "Singer's Grave/A Sea of Tongues", o seu mais recente trabalho que resulta, maioritariamente, na remistura de canções de "Wolfroy Goes To Town". Em entrevista recente ao Jornal 'i', Will afirma: "Porque não dar às pessoas a oportunidade de ouvi-las outra vez?" Mas não nos contentamos com não saber o porquê dessa generosidade. "Quando se faz um disco começa-se com um grupo de canções, independentemente de para onde elas vão durante o processo. Mais que revisitar o disco em si, quis revisitar estas canções, um grupo de temas que tivesse ganho vida. Havia muito nessas canções que queria que fosse ouvido, mas o que acontece actualmente é que as pessoas não têm tempo, energia ou dinheiro para conhecer as coisas". E foi o que aconteceu. Durante duas horas e três regressos ao palco, as cerca de 160 pessoas testemunharam novas roupagens para temas (relativamente) conhecidos. A opção de BPB foi clara: transformar velhas canções, com toadas claramente mais encostadas ao espetro mais country do estilo americana que o carateriza. Não sendo eu admirador confesso do género country, a receita resultou. A voz foi, em alguns momentos, emprestada a David Ferguson num registo de total partilha: foram várias as vezes em que Will se virou para os colegas de palco; noutros conversava de forma descontraída, quase como se não estivesse a atuar, sobretudo com Matt Sweeney (outra grande figura da música atual), a propósito de uma nota ou de uma interpretação musical. O tempo passou mais rápido do que o habitual. Não fosse a versão 78 rpm do clássico "I See A Darkness" (uma pena!) e o perfume de Nashville, Tennessee, testemunhado no final, em pessoa, com os músicos a assinarem os seus trabalhos, teria assentado que nem uma luva. Até à próxima.



* Verso de "Night Noises"

Sem comentários: