...ao excelente artigo de opinião de Henrique Raposo publicado no jornal Expresso. A gestão do progresso tecnológico é hoje um desafio que todos temos de saber enfrentar, mas negar o básico às crianças, a rua, as quedas, os desafios do crescimento, em nome de uma "modernidade" serôdia, é a pior forma de o fazer.
"Não quero que os meus filhos brinquem com tablets
Quero que eles aprendam a fazer tablets, o que é um pouco diferente. E brincar num tablet não oferece a ninguém as capacidades que permitem a construção do hardware e software daquelas geringonças. Todavia, amigos, primos e vizinhos andam por aí numa enorme alegria, que também é um enorme equívoco, eh pá, a minha filha já mexe no tablet, já brinca com aquilo, é tão esperta não é? Não, não é. A minha filha de dois anos já sabe mexer num ecrã de toque, sabe procurar as suas aplicações, Angry Birds, por exemplo, mas isso não faz dela um génio. Se tivesse tempo, um chimpanzé também aprenderia a usar aquele ecrã de toque.
Eu não me importo que ela brinque com o ipad, mas não vejo nisso qualquer incursão pedagógica nos mistérios da tecnologia. Brincar naquele ecrã não oferece vantagens comparativas aos nossos filhos. Pelo contrário, até pode gerar a ideia de que a informática é apenas aquilo - dar piparotes num ecrã. Eu ainda me lembro dos rapazes do meu tempo que queriam ser informáticos só porque gostavam muito de jogar computador, e também me lembro de ouvir os pais desses rapazes a dizer coisas como "ai, o meu João tem muito jeito para os computadores, que é um emprego com saída". Infelizmente, estes pais perceberam demasiado tarde que ficar a jogar "Civilization" ou "Command & Conquer" até às 5 da manhã não é o mesmo que ter jeito para engenharia informática.
Neste ponto, convém relembrar uma história reveladora: os homens da Google têm os filhos numa escola sem tecnologia de ponta, uma escola com a boa e velha ardósia onde as crianças aprendem aquilo que se aprende há séculos: as fórmulas e cálculos da matemática. A jusante, é este pensamento abstracto que permite a concepção dos algoritmos e afins que estão na base dos tablets e demais tecnologia. Portanto, a vantagem comparativa que podemos dar aos nossos filhos continua a ser a mesma da era pré-tablet e pré-net. Há que dotá-los de agilidade matemática, há que pegar num lápis e forçá-los a encarar os problemas da matemática. Passar a vida a brincar com o tablet é meio caminho andado para nunca se conseguir fazer um... tablet."
Eu não me importo que ela brinque com o ipad, mas não vejo nisso qualquer incursão pedagógica nos mistérios da tecnologia. Brincar naquele ecrã não oferece vantagens comparativas aos nossos filhos. Pelo contrário, até pode gerar a ideia de que a informática é apenas aquilo - dar piparotes num ecrã. Eu ainda me lembro dos rapazes do meu tempo que queriam ser informáticos só porque gostavam muito de jogar computador, e também me lembro de ouvir os pais desses rapazes a dizer coisas como "ai, o meu João tem muito jeito para os computadores, que é um emprego com saída". Infelizmente, estes pais perceberam demasiado tarde que ficar a jogar "Civilization" ou "Command & Conquer" até às 5 da manhã não é o mesmo que ter jeito para engenharia informática.
Neste ponto, convém relembrar uma história reveladora: os homens da Google têm os filhos numa escola sem tecnologia de ponta, uma escola com a boa e velha ardósia onde as crianças aprendem aquilo que se aprende há séculos: as fórmulas e cálculos da matemática. A jusante, é este pensamento abstracto que permite a concepção dos algoritmos e afins que estão na base dos tablets e demais tecnologia. Portanto, a vantagem comparativa que podemos dar aos nossos filhos continua a ser a mesma da era pré-tablet e pré-net. Há que dotá-los de agilidade matemática, há que pegar num lápis e forçá-los a encarar os problemas da matemática. Passar a vida a brincar com o tablet é meio caminho andado para nunca se conseguir fazer um... tablet."
Henrique raposo in Expresso, 15.04.13
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