segunda-feira, 3 de junho de 2013

Sons da Primavera II


Na última Quinta-feira estive mais uma vez no Optimus Primavera Sound, desta vez no Porto e no magnífico Parque da cidade. Muita gente, excelentes condições e um cartaz que prometia. Ainda com o sol da Primavera a iluminar aquela mole de gente, as hostilidades tiveram início com os norte-americanos Wild Nothing e a sua pop ligeira, e um som cheio, com muitas guitarras a marcar o compasso. Interessante. Seguiram-se as Breeders das irmãs Deal: som dos Pixies revisitado, ainda que sob a designação do seu novo trabalho (tocado na íntegra) Last Splash. A primeira nota revivalista da noite. 
Dead Can Dance no écran

À hora do jantar juntaram-se mais revivalistas dos anos 80 com os Dead Can Dance. Confesso que vi mal e ouvi mais do que vi. O som é demasiado datado e teve o seu tempo. Nesta fase falta-me a paciência para tanto revivalismo. Saudei, ainda assim, a célebre Song to The Siren, um original de Tim Buckley, bem urdido pela vozes de Lisa Gerrard e Brendan Perry que continuam a ter presença que enche um palco. 

Seguiram-se os americanos Deerhunter. Deles perdi o rasto depois de Halcyon Digest (2010). Conheço mal Monomania (2013) e confesso que, talvez por isso, não tenha opinião melhor do que “parece-me que cumpriram”… 

Chegou depois o grande mago Nick Cave, acompanhado pelos seus fieis Bad Seeds. Aqui, curiosamente, não se sente qualquer revivalismo. Parece que tudo é novo. É como se, de cada vez que o vejo, um auto reset acontecesse e, de repente nunca o tivesse visto ou ouvido. É esse o sentimento que prevalece e pressente dentro da chamada lógica de grupo. Sente-se no ar uma espécie de momento quase litúrgico que se antecipa belo. O homem é o verdadeiro animal de palco que faz de cada concerto um desafio para ganhar. E ganhou. Deu um concerto enorme, cheio de garra, com a recuperação de temas muito além de Push The Sky Away o seu último trabalho.
Entre temas “obrigatórios” de promoção deste álbum, ia questionando o público “What do you wanna hear now!?”, num registo de provocação e de consciente atitude de conquista de um público que se rendia logo ao segundo tema. Em From her to eternity, terceiro tema a ser tocado, percebeu-se imediatamente que aquela iria ser a sua noite, puxando de galões que lhe pertencem na totalidade. Seguiram-se Jack the ripper, The weeping song (a propósito deste tema registo um sound byte ouvido por uma das inúmeras caras bonitas que povoavam aquele espaço: “podia ser a banda sonora da Bíblia”... e podia mesmo!), The mercy seat e o fenomenal Red right hand. Várias vezes dançou com o público, invadindo o seu espaço, num ballet de sedução que domina inteiramente. Seguiram-se We real cool e Push the sky away, já depois de ter ameaçado deixar o palco do Primavera Sound. O concerto termina quase em catarse, com o público a pedir mais mas as regras de festivais têm limitações quanto a encores. E foi pena. Por mim e por toda aquela gente, tinha continuado mais noite adentro. Mas não. O mago retirou-se e o público preparou-se para o newby James Blake. 

Com apenas dois trabalhos editados (James Blake-2011 e Overgrown-2013), a curiosidade de ver a transposição do estúdio para o palco era grande. A sua voz de timbre marcante, de registo que leva a um certo enlevo musical, bem como a composição da banda que o acompanha (percursão e teclas+electrónica) remetia para algumas dúvidas de que a fórmula resultasse ao vivo. A tardia hora (começou já bem depois das 02.30h) também era factor a ter em conta e o facto de tocar depois de Nick Cave eram tudo factores que “jogavam contra”. Surpreendentemente a coisa resultou em pleno e o londrino acabou por terminar a primeira noite do festival em grande. Fica a ideia de que, o que concorria de início para enfraquecer a sua actuação, contribuiu para a fazer resultar.
James Blake
A electrónica a seguir ao rock; a juventude a seguir à “veterania”; a postura tranquila em palco, a seguir aos trejeitos de quem já percorreu milhares de km e de palcos. A música de James Blake foi a cereja orgânica em cima do bolo de chocolate. Ouvir Limit to your love, Overgrown, To the last, entre outras, foi o bálsamo que todos precisávamos para levar connosco uma noite inesquecível. O cheiro que permanece no dia e dias seguintes. A história faz-se de momentos destes. 


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