Girls na Casa da Música. Mais imagens aqui.
Ao ouvirmos o duo de San Francisco que compõe os Girls (BTW, nome muito pouco Google friendly) entramos no campo das sonoridades avulsas. Encontramos, com facilidade, acordes dos Eagles, Pink Floyd, Wire, Stone Roses, Led Zeppelin, The Who, etc. Esta ida ao baú de sons terá pouco a ver com uma qualquer homenagem que os Girls queiram fazer às bandas dos anos 60, 70 e 80. No facto de Christopher Owens ter sido criado dentro do culto Children of God, pode residir a explicação para a sonoridade dos seus trabalhos. Um conjunto de vivências negadas justifica sempre alguns comportamentos. E isto basta para muito mais do que a música. A sede de descoberta de canções de grupos "proscritos" pode justificar o som saudavelmente anacrónico que os Girls produzem. São já dois os trabalhos editados em formato de Long Play (nada como manter a coerência temporal da terminologia). Em 2009 dão a conhecer "Album" e, já este ano, "Father, Son, Holy Ghost" (sweet irony!). Em ambos os casos somos forçados a recordar nomes passados. Em ambos os casos concretizamos as teorias do arco temporal. No entanto, é com este seu disco mais recente, que a dupla Owens e Chet “JR” White, nos mostra a sua versão rock progressivo das mega-bandas de tempos idos. "Father, Son, Holy Ghost" é uma delícia de disco. Mais fácil que o anterior "Album", "Father, Son, Holy Ghost" reúne um conjunto de canções que não precisam de crescer em nós. São belas desde logo. Fáceis. Povoam-nas refrões e tiradas ultra-românticas ("How I can I say I love you? / Now that you’ve said I love you?", em Saying I Love You; ou “Nothing’s gonna get any better / If you don’t have a little hope / If you don’t have a little love / In your soul”, em Forgiveness) que se cantam e cantarolam sem enjoar. Bem pelo contrário. Constituem ainda espaço para a exorcização de sentimentos em reboliço: a sua relação com a mãe está sempre presente na lírica que emprega; ainda a tentar lidar com a estupidez de quem deixou morrer um filho em nome de uma seita que rejeitava o uso de medicamentos. Quando canta "I'm looking for meaning in life, and you my ma", Owens lembra o seu sofrimento. Inquieto poeta.
Foram estes rapazes, os Girls, que estiveram em palco no passado dia 30, na sala 2, da Casa da Música. Num eclesial palco, repleto de flores, a banda encerrou o seu giro europeu com alma e competência. Alimentados por uma bela colecção de almas conhecedora do que fazem, o grupo passeou-se pelos seus temas em bailados psicotrópicos desde sempre assumidos. Houve momentos de shoegazzing, solos, silêncios introspectivos, berros e cumplicidades. Tal qual como num concerto do século XX. "Some girls are bigger than others", ouvi eu um dia, ouvindo ainda, hoje e sempre. É verdade.
My Ma
HeartbreakerLaura
Die
Honey Bunny
Love Like a River
Vomit
Lust For Life
Alex
Substance
Hellhole Ratrace
Broken Dreams Club
Morning Light
Magic
Saying I Love You
Darling
Forgiveness
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