sábado, 30 de julho de 2011

Entre a parede e o silêncio


Entre a parede e o silêncio
há talvez uma palavra
que eu tenho de formar.
Ou não há nada e eu quero
não me perder.

Entretanto... a luz pode surgir.
O dia é claro. A parede nua.
E mal respiro. Perco o meu dia.
Tudo é instantâneo ou não,
fulgura ou não,
ou vale a pena ou não
- mas poderei expor-me ainda mais
como uma pedra nua?

Aspiro ao instante exacto
em que a palavra surja.
Quero o olhar mais limpo,
a linguagem sem véus como a parede.
E esse momento em que eu seria eu,
o movimento entre eu e o dia.
Poderei caminhar, dizer bom dia
se o tiver dito ou o souber dizer
pelas palavras mesmas que disser,
por essa única que soube ou não formar.

                                              António Ramos Rosa

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