Sábado à noite estive numa quente e movimentada Braga. Os norte-americanos Wilco foram o motivo. O Theatro Circo, o local. Este espaço, à semelhança de outros, proíbe a captação de qualquer tipo de imagem e/ou som. Entendo o princípio mas discuto os objectivos. Que se proíba a captação de imagens ou som para, com o material captado, se fazer dinheiro, parece-me correcto. Se a ideia é poupar o público das asneiras dos fotógrafos amadores e do uso idiota dos flashes, também me parece mais do que correcto. Mas as razões são pouco claras e é isso que me aborrece. Talvez fosse mais correcto que se fizesse como nos museus: pode-se fotografar mas é proibido o uso do flash.
Pois foi sem fotografar que assisti a um belo set de canções por parte de Jeff Tweedy e seus companheiros. Foram mais de duas horas de um concerto que passou sobretudo pela apresentação do seu próximo The album, previsto para o final de Junho; e pelos últimos três trabalhos do grupo, com especial incidência para "A ghost is born" (2004). Durante quase meia hora, os Wilco limitaram-se a tocar. A primeira vez que Jeff se dirigiu ao público foi para lembrar que eram americanos mas que não tinham nada a ver com George Bush. Mais tarde no alinhamento, deu a entender que a fraca procura de bilhetes para o concerto de Lisboa se devia ao facto de serem Yankees e de ninguém gostar deles por causa disso. É o fantasma Bush ainda a pairar. Os não-alinhados vivem mais este estigma ainda que na sua base estejam pressupostos errados. Os americanos têm uma forma peculiar de olhar para nós, europeus (e vice-versa) e isso leva a alguns traumas que só o tempo curará. O facto é que a sala em Braga estava quase cheia o que fez com que Jeff, por mais de uma vez tentasse que aquele público fosse a Lisboa porque, "you know, they don't like us there" (bihetes a 40€+domingo+proximidade de concerto dos AC/DC explicam, decerto, a fraca adesão lisboeta)! Nada mais.
No palco, realce para dois músicos acima da média: Nels Cline, o guitarrista principal (só visto) e Glenn Kotche, um estupendo baterista que, com o avançar do gig se foi soltando e terminou o espactáculo, a propósito de "Heavy metal drummer" (Yankee Hotel Foxtrot), triunfal, em cima da bateria. Tinha alguma curiosidade em ver como ia a banda lidar com a morte de um seu ex-membro, Jay Bennet, ocorrida a semana passada. Não houve qualquer alusão relativamente ao assunto e o ar pesado, quase "neandertálico" de Jeff é sua imagem de marca, pelo que não verifiquei qualquer tipo de alteração relativamente ao que esperava. O show teve momentos muito altos. Deste último Wilco (the album), destaque para You and I (embora, nesta canção em particular, tenha notado muito a ausência da voz de Feist, que colabora no álbum) e Deeper down. Das recordações ensaiadas, ficaram-me na memória Handshake drugs, Muzzle of Bees, Hummingbird (A Ghost is born-2004) e Impossible Germany e Sky Blue Sky (Sky Blue Sky-2007). Foi pena não terem tocado Kamera (Yankee Hotel Foxtrot-2002). Teria sido perfeita esta incursão que a banda de Illinois fez, em terras minhotas. Mesmo sem poder documentar com fotografias.
1 comentário:
Excelente texto, amigo. Como teriam sido excelentes as fotos que não te deixaram tirar...
Enviar um comentário