domingo, 31 de maio de 2009

Wilco em Braga

Sábado à noite estive numa quente e movimentada Braga. Os norte-americanos Wilco foram o motivo. O Theatro Circo, o local. Este espaço, à semelhança de outros, proíbe a captação de qualquer tipo de imagem e/ou som. Entendo o princípio mas discuto os objectivos. Que se proíba a captação de imagens ou som para, com o material captado, se fazer dinheiro, parece-me correcto. Se a ideia é poupar o público das asneiras dos fotógrafos amadores e do uso idiota dos flashes, também me parece mais do que correcto. Mas as razões são pouco claras e é isso que me aborrece. Talvez fosse mais correcto que se fizesse como nos museus: pode-se fotografar mas é proibido o uso do flash.
Pois foi sem fotografar que assisti a um belo set de canções por parte de Jeff Tweedy e seus companheiros. Foram mais de duas horas de um concerto que passou sobretudo pela apresentação do seu próximo The album, previsto para o final de Junho; e pelos últimos três trabalhos do grupo, com especial incidência para "A ghost is born" (2004). Durante quase meia hora, os Wilco limitaram-se a tocar. A primeira vez que Jeff se dirigiu ao público foi para lembrar que eram americanos mas que não tinham nada a ver com George Bush. Mais tarde no alinhamento, deu a entender que a fraca procura de bilhetes para o concerto de Lisboa se devia ao facto de serem Yankees e de ninguém gostar deles por causa disso. É o fantasma Bush ainda a pairar. Os não-alinhados vivem mais este estigma ainda que na sua base estejam pressupostos errados. Os americanos têm uma forma peculiar de olhar para nós, europeus (e vice-versa) e isso leva a alguns traumas que só o tempo curará. O facto é que a sala em Braga estava quase cheia o que fez com que Jeff, por mais de uma vez tentasse que aquele público fosse a Lisboa porque, "you know, they don't like us there" (bihetes a 40€+domingo+proximidade de concerto dos AC/DC explicam, decerto, a fraca adesão lisboeta)! Nada mais.
No palco, realce para dois músicos acima da média: Nels Cline, o guitarrista principal (só visto) e Glenn Kotche, um estupendo baterista que, com o avançar do gig se foi soltando e terminou o espactáculo, a propósito de "Heavy metal drummer" (Yankee Hotel Foxtrot), triunfal, em cima da bateria. Tinha alguma curiosidade em ver como ia a banda lidar com a morte de um seu ex-membro, Jay Bennet, ocorrida a semana passada. Não houve qualquer alusão relativamente ao assunto e o ar pesado, quase "neandertálico" de Jeff é sua imagem de marca, pelo que não verifiquei qualquer tipo de alteração relativamente ao que esperava. O show teve momentos muito altos. Deste último Wilco (the album), destaque para You and I (embora, nesta canção em particular, tenha notado muito a ausência da voz de Feist, que colabora no álbum) e Deeper down. Das recordações ensaiadas, ficaram-me na memória Handshake drugs, Muzzle of Bees, Hummingbird (A Ghost is born-2004) e Impossible Germany e Sky Blue Sky (Sky Blue Sky-2007). Foi pena não terem tocado Kamera (Yankee Hotel Foxtrot-2002). Teria sido perfeita esta incursão que a banda de Illinois fez, em terras minhotas. Mesmo sem poder documentar com fotografias.

sábado, 30 de maio de 2009

De gritos

Michelle Brito vs. Sharapova: scream duel.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Prazeres

Range life by The Pavement
"I want a range life/ if I can settle down"
The Pavement, velhos prazeres intemporais.

Luzes foscas

Quando se tem uma voz andrógina, com timbres de gospel, soul, e forte inspiração jazzística, inovar é mais complicado que o habitual. Antony Hegarty tem uma voz bela e única mas está a pagar cara essa factura. Não se trata de julgar que qualquer projecto musical tenha de passar por uma obrigatoriedade de fugir a um estilo entretanto criado. Ou que um qualquer projecto musical, mantendo a mesma linha, evitando fazer algo diferente, fugindo ao esperado, tenha voz de sentença. A ideia de estilo próprio tem cabimento na maioria dos casos. É aceite e até se recomenda. A questão reside na especificidade: ao ter uma voz única, facilmente identificável de tão única, Antony é somente a sua voz. Isto, que na maioria dos casos seria muito, começa a ser pouco para Antony Hegarty. Com "The crying light" já deste ano, a fórmula repete-se, torna-se maçadora e dou comigo a ter a certeza que Antony só consegue cantar o que é triste, escuro e bizarro na humanidade. É pouco. Não dá para mais. Sempre com um fácil vibrato. As melodias são banais e caem no erro de fazer sobressair a sua voz. A faixa com o mesmo título do álbum tem um refrão tão repetitivo que se torna irritante o que me obriga a passá-la à frente nas inúmeras hipóteses de audição que dei ao disco. Salva-se Everglade, a última canção, e pouco mais.
Já tinha visto Antony & the Johnsons ao vivo, na Casa da Música aquando do lançamento de "I am a bird now" (este sim, autêntica "pedrada no pântano"), em 2005. Na altura a expectativa era grande pois vivia ainda a ressaca da descoberta desse seu fabuloso segundo trabalho. Na altura, num registo ligeiramente mais intimista e com menos Johnsons em palco, fiquei com a ideia de que o grupo tinha cumprido mas que não estava perante um "animal" (ou "animais") de palco. Para o espectáculo de segunda-feira o espírito era o oposto do de há um par de anos atrás. Não tivesse os bilhetes desde Fevereiro e, de certeza, nem pensaria sequer na possibilidade de ir ao Coliseu do Porto. Fui. Antony compareceu com a sua banda. Sentados, bem vestidos e bem comportados, mostraram sempre excesso de comedimento na forma como tocavam. Faltava alma. Faltou alma! Em palco estavam duas entidades diferentes: o vocalista e o seu piano; e todos os outros membros da banda. Sentia-se isso e não era necessário puxar pelas dioptrias. Sobraram vibratos, trejeitos e piadas políticas à mistura com preocupações ambientais. Isso e mais os flashes omnipresentes de quem, de certeza, não vê à posteriori os negrumes que saiem da máquina como produto final em vez do que deveriam ser fotografias.
Foi relativamente agradável! Dizer isto de um concerto é quase lamentar os 40 euros que paguei. Quase. Os poucos momentos altos (umas variações de um mesmo tema que iam levando a banda ao desespero) foram menos do que aqueles com pouco brilho. E nem mesmo os novos arranjos dos temas de "The crying light" (melhoraram-nos q.b.) foram o bastante para sentir mais do que algum conforto. Ficou o consolo de pensar que, ao criar novos arranjos, o próprio Antony me dá razão e considera "The crying light", um álbum menor.
Mais imagens aqui.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O voo de Bret e Jemaine

Bret e Jemaine são as principais personagens de Flight of the Conchords. Acompanhei a primeira série com todo o interesse e estou agora a fazer o mesmo com a segunda, que a HBO está a apresentar. Bret e Jemaine são duas personagens. Já o tinha dito mas agora o entendimento deve ter cariz mais lato. É que, por mais que se tente, não se consegue perceber se Bret McKenzie e Jemaine Clement são duas personagens, ou se são mesmo assim na vida real. E essa é só uma pequena parte do fascinante mundo destes neo-zelandeses que tentam vingar na cena musical nos Estados Unidos da América, com uma só fã e um manager completamente incompetente.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Só para quem tem unhas

No próximo sábado, o virtuoso Tommy Emmanuel, um dos mais prestigiados mestres (há quem diga que é "o mestre") de guitarra, estará em Santo Tirso no âmbito do XVI Festival Internacional de Guitarra de Santo Tirso. Além de guitarrista clássico, o australiano Tommy também é produtor e tem trabalhado com os nomes maiores da música. Fará valer bem a pena os 15€ que a organização cobra. O Youtube é nosso amigo.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dakota Suite - The Finished River

De cenas raras e belas

Window north Leeds by Chris Hooson

A ideia era cumprir aquilo que já há um tempo estava programado: assistir a mais um dos deliciosos showcase com que a FNAC brinda os seus clientes. Desta vez, a razão principal era a actuação de Old Jerusalem que pôde dar corpo ao seu último Two birds blessing. O previsto aconteceu sem que qualquer imprevisto acontecesse. Francisco Silva continua a passear a sua genialidade à espera que alguém repare naquilo que faz, sendo que aquilo que faz é muito digno de ser apreciado. O que não esperava era ter, nessa mesma noite de quarta-feira, o enorme prazer de assistir a um outro mini-gig. Sem esperar, estava à minha frente Chris Hooson, alma (grande) do projecto Dakota Suite que há alguns Outonos atrás me levou a passear em noites de melancolia. O slow-core que os Dakota Suite fazem, marcado pela guitarra e piano, surge das diversas crises de depressão da alma do seu líder. Chris só sabe lidar com este problema, compondo. Usa um intrincado esquema que envolve símbolos para o fazer, uma vez que não sabe ler ou escrever pautas. A razão por que esteve alguns anos sem publicar qualquer trabalho tem um nome, toca clarinete e já trabalhou com Chris: Joahanna Hooson. O nome de família faz adivinhar que é sua mulher, e durante três anos, a fazer fé no discurso directo de Chris, nada houve entre eles que justificasse novo mergulho na profunda depressão que o impele a pegar na guitarra e compor. Waiting For The Dawn To Crawl Through And Take Away Your Life data de Fevereiro de 2007 e admito que, desde aí a sua relação tenha melhorado. Admito mas não tenho a certeza. Ele, no entanto, mantém-se igual ao que sempre foi: desconcertante, sincero e raro. Relembrei velhas estórias de Chris e pude constatar o que sabia mas tinha esquecido. O fervoroso adepto do Everton esteve no Porto. Também esteve o adepto da Holanda em detrimento da selecção do seu país. Não sabe sequer onde vivem os seus pais mas julga que é algures no País de Gales. Isso não lhe interessa. Basicamente só lhe interessa a sua família e o Everton F.C., sendo que a ordem poderá não ser exactamente esta. A vida custa-lhe. Custa-lhe muito mas faz disso modo de vida, quando não está a tentar recuperar criminosos do foro sexual, a sua principal actividade. Custa-lhe que Joahanna se recuse ouvir todas as suas canções cantadas porque se assusta com as suas letras. Ela, que é a razão da sua música. Custa-lhe tanto que chora quando actua. E chorou no Porto. Eu vi. E ouvi-o dizer que toda a música se resume a um só nome: Tom Waits. Do resto destaca somente tudo o que a label ECM faz. Ouvi-o ainda dizer que não entende por que razão as pessoas o ouvem quando, para ele, a música que faz é pura terapia para os seus males. Não percebe como o consumo próprio possa interessar aos outros. Falou das suas fotografias (estavam a ser projectadas a partir do seu MacBook) e da próxima viagem ao Japão. Afirmou que é normal ter confrontos físicos com os elementos da banda, durante os seus concertos mas que, com os espectadores isso “é raro acontecer”. E disse que não entende como pode alguém trair quem ama.

Quando, no final, me dirigi a ele para que autografasse o seu mais recente trabalho, só me ocorreu pedir-lhe que não me levasse o João Moutinho. Sorriu e recomendou-me que o fosse ver amanhã, no Passos Manuel, no Porto. Na capa do seu disco recomenda-me que nunca use roupa vermelha, numa clara alusão aos clubes seus rivais na velha Albion! Desconcertante, complexo e raro.