sábado, 31 de janeiro de 2015

Regresso ao futuro

© Josh Freydkis 

Excerto de um interessante artigo ("Can students have too much tech?") publicado no New York Times, acerca do impacto que a tecnologia em excesso tem em crianças e jovens. Nesta questão cada vez mais premente, as certezas superam já as dúvidas. O que fazer agora com toda esta informação? Questão que se segue. Não há como voltar atrás e a grande dificuldade reside na adequação das diferentes realidades. Coisa pouca, portanto!

“Students who gain access to a home computer between the 5th and 8th grades tend to witness a persistent decline in reading and math scores,” the economists wrote, adding that license to surf the Internet was also linked to lower grades in younger children.

In fact, the students’ academic scores dropped and remained depressed for as long as the researchers kept tabs on them. What’s worse, the weaker students (boys, African-Americans) were more adversely affected than the rest. When their computers arrived, their reading scores fell off a cliff.

We don’t know why this is, but we can speculate. With no adults to supervise them, many kids used their networked devices not for schoolwork, but to play games, troll social media and download entertainment. (And why not? Given their druthers, most adults would do the same.)"

Susan Pinker, colunista do New York Times, 30.01.15

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Plumas de avestruz

- (...) Vós quereis tentar a sorte na grande cidade, e sabeis bem que é lá que deveis gastar essa aura de valentia que a longa inacção dentro destas muralhas vos houver concedido. Procurareis também a fortuna, e devereis ser hábil a obtê-la. Se aqui aprendeste a escapar à bala de um mosquete, lá deveis aprender a saber escapar à inveja, ao ciúme, à rapacidade, batendo-vos com armas iguais com os vossos adversários, ou seja, com todos. E portanto escutai-me. Há meia hora que me interrompeis dizendo o que pensais, e com o ar de interrogar quereis mostrar-me que me engano. Nunca mais o façais, especialmente com os poderosos. Às vezes a confiança na vossa argúcia e o sentimento de dever testemunhar a verdade poderiam impelir-vos a dar um bom conselho a quem é mais do que vós. Nunca o façais. Toda a vitória produz ódio no vencido, e se se obtiver sobre o nosso próprio senhor, ou é estúpida ou é prejudicial. Os príncipes desejam ser ajudados mas não superados. 
Mas sede prudente também com os vossos iguais. Não humilheis com as vossas virtudes. Nunca falei de vós mesmos: ou vos gabaríeis, que é vaidade, ou vos vituperaríeis, que é estultícia. Deixai antes que os outros vos descubram alguma pecha venial, que a inveja possa roer sem demasiado dano vosso. Devereis ser de bastante e às vezes parecer de pouco. A avestruz não aspira a erguer-se nos ares, expondo-se a uma exemplar queda: deixa descobrir pouco a pouco a beleza das suas plumas. E sobretudo, se tiverdes paixões, não as ponhais à vista, por mais nobres que vos pareçam. Não se deve consentir a todos o acesso ao nosso próprio coração. Um silêncio cauto e prudente é o cofre da sensatez. 

Umberto Eco, in 'A Ilha do Dia Antes'

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Melodias que me fizeram....

Scout Niblett - No Scrubs (2012)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Pelo vento dos tempos

Preocupa-me o desaparecimento de certas palavras. A palavra “labrosta”, por exemplo, vocábulo tão salutar com que a minha mãe chegou a brindar as minhas maneiras à mesa (“És um labrosta!”), sinónimo de pessoa “labrega”, “grosseira”, “rústica”, “campónia” ou “camponesa”, e que raramente se ouve.
Proponho que se soltem palavras desusadas por aí, como quem solta animais de cativeiro na natureza, para ver se pegam. Porque é que em vez de uma “sopa camponesa” não podemos ter um “creme de labrosta”? Até soa a coisa de prestígio.
Há palavras que se encontram numa situação crítica. Algumas só sobrevivem graças a provérbios ou expressões idiomáticas, que funcionam como última reserva, santuário, onde essas palavras ainda encontram espaço para respirar. Palavras como “albardar” ou “bugalho” estão confinadas a ditados populares como “Albarda-se o burro à vontade do dono” ou “Confundir alhos com bugalhos”. Há que reavivar estas palavras. Nem que seja nos contextos mais improváveis. Se um dos significados de “bugalho” é “conta grande do rosário”, o senhor padre que diga a meio do terço: “Irmãos, vamos agora rezar o bugalho.”
Felizmente que ainda ninguém se lembrou de actualizar os provérbios, porque senão seria uma desgraça. Lá se ia um magote de palavras. Além disso, era ridículo. O que é que íamos dizer, “Atafulha-se o porta-bagagens à vontade do dono”? Era uma hecatombe. Não só para as palavras e para os provérbios, como para todo um imaginário antigo, muitas vezes rural, que assim seria varrido da nossa memória. É urgente incentivar a utilização de provérbios e nunca pensar em actualizá-los para coisa palermas como: “Os cães ladram e a autocaravana passa”, “Em casa de informático, Windows XP” (do original “Em casa de ferreiro, espeto de pau”) ou “Ainda a fila vai no Viaduto Duarte Pacheco”, com a respectiva versão para o Norte, “Ainda a fila vai no Nó de Francos” (do original “Ainda a procissão vai no adro”).
Talvez devêssemos publicar a Lista Vermelha das Palavras, tal como a UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza) faz com as espécies de animais, plantas e fungos. Classifiquem-se as palavras por ordem decrescente de ameaça de extinção, como “Em Perigo Crítico”, “Em Perigo” ou “Em Cadilhos”, no caso das mais periclitantes. Refira-se, a título de curiosidade, que a antiga designação da categoria “Em Cadilhos” era “Vulnerável”. Mas alterou-se por uma questão de rigor científico, como é, aliás, fácil de comprovar pela frase exemplificativa: “É fundamental proteger o tigre-de-sumatra, por ser uma espécie em perigo crítico, mas também é preciso atenção ao tubarão-branco, que está em cadilhos.”
Assim, com base numa análise empírica rigorosa, que respeita os critérios que me deram na real gana, eis alguns exemplos de palavras ameaçadas das várias categorias:
Em Perigo Crítico – Labrosta, alvíssaras, tropa-fandanga
Em Perigo – Calhordas, bambúrrio, abrenúncio, escanifobético
Em Cadilhos – Serigaita, sorrelfa, estroina, pilantra
Também pude atestar a raridade de alguns termos pelo corrector ortográfico do processador de texto, que não identifica palavras como “tropa-fandanga”. Sugere-me “contra-propaganda” em troca, porque deve gostar da sonoridade, acha que é parecido. “Ai eles fizeram propaganda? Então nós vamos fazer tropa-fandanga!”
Para que se perceba a gravidade da situação de algumas palavras, termino com uma citação de um artigo, originalmente sobre biodiversidade, com uma ligeira modificação da minha parte:
«Recentes estudos revelam surpreendentes taxas de declínio ou quase extinção de insultos como “calhordas”, “labrosta” ou “safardana” e confirmam a importância deste tipo de injúrias para as populações. Além disso, e de forma mais ampla, estes estudos demonstram que, se não formos capazes de acabar ou reverter o ritmo da perda de “calhordas”, por exemplo, isso poderá ter consequências dramáticas para os ecossistemas linguísticos ou, pior ainda, poderá significar a opção por insultos desprovidos de interesse.»
Gonçalo Puga, Público, 27.01.15

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

De tartarugas e joaninhas

António Zambujo - O Zorro (Ao Vivo no Coliseu)

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Se...

se
nem
for
terra
se
trans
for
mar


Paulo Leminski

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Sugar cubes

"Fixing Luka" é um filme em stop motion que resulta da vivência da autora, Jessica Ashman, com o seu irmão mais novo, autista. Embora date de 2011, a atualidade e qualidade mantêm-se. 
Lucy acredita que o seu irmão, devido à obsessão que sente por cubos de açúcar, dedais e outros objetos, está "estragado" e merece conserto. A forma de o fazer é tudo menos fácil e vai exigir da protagonista algum trabalho.

Melodias que me fizeram....

Fleet Foxes - "Ragged Wood" (2008)

Precedências


Via Vo Vatublr.

sábado, 17 de janeiro de 2015

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Melodias que me fazem...

Mirel Wagner - "Goodnight"

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Melodias que me fizeram...

Ben Harper - "Please me like you want to" (1995)