Sábado à noite, os britânicos Fujiya & Miyagi apresentaram-se no Porto, no Hard Club, para divulgarem o seu mais recente álbum, “Artificial Sweeteners”. A noite estava perfeita e o espaço acomodou umas poucas centenas de almas em busca do som que o duo de Brighton (Steve Lewis-Fujiya e David Best-Miyagi) vem fazendo desde 2000. Ainda que menos mediáticos, tão ilustre visita merece sempre uma espreitada de corpo inteiro.
Em 2008, a propósito de um concerto de Fujiya & Miyagi a que assisti e que comparei à prova de um vinho (na altura a experiência deixou esta sinestésica impressão), escrevi: "Impenetrável de início. Retinto. Com reflexos púrpura às vezes e de todas as outras cores, outras vezes. Tal como expectável, o nariz foi dominado por um frutado de Transparent Things e Lightbulbs, muito concentrado e potente, coordenado pelo que se ouvia e via, e onde imperavam os aromas de krautrock. Notas de teclas, um poderoso baixo, guitarra e uma inesperada bateria com apontamentos de vai e vem. O palato foi rico e voluptuoso, pouco aveludado como convinha, e onde ninguém se lembrou dos taninos mas que, de certeza, estavam muito bem integrados e envolvidos por sabores de suculentos sons que, lentamente, sem geleia de fruta ou chocolate preto, levaram a um final apoteótico com toda a gente longe da cadeira. Foi assim Fujiya & Miyagi na última sexta-feira, em Famalicão".
Belos tempos!!
Hoje, este palato dificilmente daria origem às mesmas exatas sinapses como registo do que aconteceu no sábado. "Artificial Sweeteners" é um disco bem diferente de "Lightbulbs" que inspirava a visita dos ingleses há seis anos. As tonalidades inspiradas em Can ou Neu! são menos claras e o som que produzem é mais orientado para alguma cadência de Clubbing, com texturas mais eletrónicas, e ritmos a puxar ainda mais à dança. E foi ao ritmo de temas como "Reyleigh Scattering", "Acid To My Alkaline", "Tetrahydrofolic Acid" ou "Minestrone" (numa versão alargada que me encheu as medidas) que se passou a noite. Ou o vinho evoluiu ou a sinestesia caiu mas, no final, da mesma forma, ficou um sorriso.