terça-feira, 30 de abril de 2013

Matéria instável


"No elétrico que passou rapidamente estava sentado a um canto, a face contra a janela, o braço direito estendido ao longo do encosto do banco, um jovem com o sobretudo desabotoado, muito largo para ele, a olhar para o comprido banco vazio. Tinha ficado noivo hoje e não conseguia pensar noutra coisa. O facto de estar noivo dava-lhe uma sensação de conforto e com esta sensação ele olhava de vez em quando para cima, para o tecto do carro eléctrico. Quando o condutor lhe veio vender o bilhete, encontrou facilmente e no meio do tilintar de moedas a moeda exacta, com um gesto só colocou-a na mão do condutor e pegou no bilhete com dois dedos que ele abria como se fosse uma tesoura. Não havia nenhuma ligação verdadeira entre ele e o carro elétrico e não teria sido uma surpresa se, sem ter usado a plataforma e os degraus, ele tivesse aparecido na rua e tivesse ido no seu caminho a pé e com o mesmo ar.

Só o sobretudo grande de mais existia, tudo o resto foi imaginado."

Franz Kafka
diários (1910-1923)

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Páginas de vida


Tempo de virar a página. Rasgar algumas, talvez, para que não surjam vontades de voltar a ler o velho. À esquina mora já um novo desafio e um novo capítulo começa a ser escrito. 

sábado, 27 de abril de 2013

Os géneros nas redes

Um interessante retrato da "guerra dos sexos" das redes sociais.


Via mediabistro.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O rapaz dos leões

A estória de Richard Turere.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Melodias que me fizeram...

The Sound - "Winning"

Diário de Notícias Vs Público: sintomas de deseducação

No reino da real confusão que impera na educação, realço duas formas de dar a mesma notícia, olhando desde logo para os títulos, a propósito da publicação da portaria com o número de vagas para efeitos do concurso nacional de professores. Aqui, a forma mais conforme com o status quo(!). E aqui, mais perto da realidade que se quer ver escondida. Que falta fazem 12000 professores! As leituras ficam ao critério de cada um. Eu? Vou ali e já venho, que isto...

quinta-feira, 18 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

...com jeitinho

Em 1994, o visionário Steve Jobs, criador da Apple, partilhava a sua visão sobre o que distingue as pessoas que fazem, das que se limitam a observar. Com jeitinho, sabendo pedir, e falando. Simples. The Apple way.

Melodias que me fizeram...

Wilco - "One Sunday Morning"

terça-feira, 16 de abril de 2013

Jogos de celos

O tema principal de Game of Thrones (excelente banda sonora) nas cordas dos violancelos dos membros de Break of Reality.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Nas rotas da Educação

Este texto de Paulo Guinote, que subscrevo na totalidade, publicado no Público, demonstra profundo conhecimento da realidade da vida das escolas. Ou seja, algo raro em quem opina sobre esta matéria. Muito mais raro raro ainda em quem tem capacidade e poder de decisão ao mais alto nível. E isso é profundamente lamentável. Os custos desta realidade poderão tardar mas não deixarão de aparecer.

Educação: o essencial e o acessório

O ministro Nuno Crato fez recentemente algumas declarações a propósito dos efeitos da decisão do Tribunal Constitucional na reprovação de medidas do Orçamento do Estado num valor próximo de metade do erro de previsão cometido o ano passado pelo ministro das Finanças em relação ao défice.

Disse o ministro que é necessário, mais do que nunca, distinguir o essencial do acessório em Educação e agir em conformidade. Se me esquecer da fórmula vazia do “fazer mais com menos” até me sinto tentado a concordar e a dar o meu humilde contributo para a distinção entre o que é nuclear para que a Educação não se torne, em si mesma, um mero encargo aborrecido e dispensável para os governantes do momento.

Para facilidade e simplicidade da análise, dividiria esta sugestão em cinco pontos essenciais e cinco acessórios.

Entre o que acho essencial e não tem sido tratado desse modo, eu identificaria:
• Despiste precoce de situações indiciadoras de insucesso escolar e disponibilização de meios técnicos e humanos multidisciplinares para as encaminhar de um modo consequente e não meramente burocrático.

• Apoio às famílias que nos últimos meses foram caindo crescentemente em situações de enorme vulnerabilidade económica (desemprego, redução de apoios sociais), o que as impede de dar o devido apoio aos seus educandos em aspectos tão básicos como a alimentação, renovação do material escolar e mesmo vestuário.

• Manutenção de condições de trabalho com um mínimo de dignidade em termos de pessoal auxiliar não docente, a que agora se chamam assistentes operacionais, não o recrutando como se qualquer um, e qualquer remuneração, servisse para o efeito.

• Motivação dos agentes educativos no terreno, em particular os que trabalham diariamente nas salas de aula, ou seja, alunos e professores, sem os quais é impossível manter uma trajectória ascendente no desempenho que se consegue agora verificar para os últimos 10/15 anos.

• Definição de uma política integrada de reformulação do currículo, com base em fundamentos pedagógicos de articulação vertical dos ciclos de escolaridade.

Entre aquilo que considero acessório, embora esteja infelizmente na agenda actual, eu destacaria:
• A retórica política baseada em chavões demagógicos sem qualquer conteúdo substancial e destinados apenas a ocultar da opinião pública que muitas das medidas tomadas o são por causas exógenas à Educação.

• A multiplicação de equipas e grupos de trabalho (internos ao Ministério da Educação e Ciência ou com recurso a nichos académicos de estimação) destinados a estudar o que há muito está estudado, tanto em trabalhos académicos como por organismos com essa mesma função (caso do Conselho Nacional de Educação).

• A reorganização da rede escolar baseada em critérios desajustados, sem qualquer fundamentação empírica das vantagens, permeável a pressões e interesses de protagonistas locais e portadora de elementos perturbadores da coesão das comunidades educativas já existentes e dos respectivos projectos educativos, pelos quais se tem revelado um total desrespeito.

• A ficção construída em torno da avaliação do desempenho docente, que avança em novo ciclo com todos os defeitos dos ciclos anteriores e nenhuma melhoria substancial, desde a ausência de formação até à parametrização prevista para a classificação desse mesmo desempenho a partir da observação de duas aulas.

• A impaciente coreografia de interesses privados em torno da desejada repartição de verbas do orçamento do Ministério da Educação e Ciência, com argumentos falaciosos alegando não demonstradas poupanças, que mais não passam do que da cobrança de favores e apoios em campanhas eleitorais recentes.

Enquanto por essencial não se considerar aquilo que faz com que as escolas e as salas de aula funcionem devidamente e o que mobiliza alunos, professores, famílias e funcionários para um desempenho comum, remetendo para o acessório os jogos de interesses que orbitam a Educação apenas numa perspectiva de ganhos materiais ou de poder pessoal, o caminho a trilhar, com ou sem cortes, não passará de um trajecto ilusório com destino incerto, prejudicando os principais interessados que são os alunos.

Pulo Guinote, in Público, 12.04.13

It feels like rain... 'cause I've got the Blues


Buddy Guy & John Mayer / Feels Like Rain


Buddy Guy & John Mayer / Damn right I've got the blues

sábado, 13 de abril de 2013

Bestas de beleza

Novamente a fabulosa arte cinética de Theo Jansen.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Velha história

Depois de atravessar muitos caminhos
Um homem chegou a uma estrada clara e extensa
Cheia de calma e luz.
O homem caminhou pela estrada afora
Ouvindo a voz dos pássaros e recebendo a luz forte do sol
Com o peito cheio de cantos e a boca farta de risos.
O homem caminhou dias e dias pela estrada longa
Que se perdia na planície uniforme.
Caminhou dias e dias…
Os únicos pássaros voaram
Só o sol ficava
O sol forte que lhe queimava a fronte pálida.
Depois de muito tempo ele se lembrou de procurar uma fonte
Mas o sol tinha secado todas as fontes.
Ele perscrutou o horizonte
E viu que a estrada ia além, muito além de todas as coisas.
Ele perscrutou o céu
E não viu nenhuma nuvem.

E o homem se lembrou dos outros caminhos.
Eram difíceis, mas a água cantava em todas as fontes
Eram íngremes, mas as flores embalsamavam o ar puro
Os pés sangravam na pedra, mas a árvore amiga velava o sono.
Lá havia tempestade e havia bonança
Havia sombra e havia luz.

O homem olhou por um momento a estrada clara e deserta
Olhou longamente para dentro de si
E voltou.

Vinicius de Moraes

quarta-feira, 10 de abril de 2013

segunda-feira, 8 de abril de 2013

Sorriso do dia

Odin, o cão com maneiras...

Melodias que me fizeram...

Jay-Jay Johanson - "Only For You"

Verdades

Até hoje

"To this day" é um interessante vídeo, parte de um projecto com o mesmo nome, do poeta canadiano Shane Koyczan. Na primeira pessoa e lendo um belo poema da sua autoria, Shane vai retratando o bullying e as suas consequências, em fundos de animação de diferentes autores. Também ele sofreu na pele diversas formas de discriminação e, talvez por isso, dedique parte da sua vida na missão de minorar e tratar este grave problema social, através de inúmeras  campanhas de apelo. O seu aparecimento num TED, já este ano, constitui um dos pontos altos daquela organização já veterana em apresentações de notáveis. Vale a pena acompanhar.

sábado, 6 de abril de 2013

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Colando o real

Jim Kazanjian é um designer gráfico americano que tem desenvolvido um interessante trabalho de criação de imagens de casas, a partir de colagens de fotografias. O processo criativo é extremamente interessante e passa por trabalhar digitalmente diferentes fotografias retiradas da internet (às vezes são cerca de 50 imagens). Nunca trabalha com imagens suas. "I cobble together pieces from photos I find interesting and feed them into Photoshop. Through a (...) layering process of adding and subtracting, I gradually blend the various parts together. (...) I think of the work as a type of mutation which can haphazardly spawn in numerous and unpredictable directions". Este trabalho de colagens começou em 2006 e visa, segundo o criador, recriar o real por forma a atingir o sublime. Anda lá perto.






Outro trabalho interessante com colagens é o de  Laurent Chéhère e as suas casas voadoras.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

terça-feira, 2 de abril de 2013

Artesão de sapatos

The Shoemaker revela Frank Catalfumo, um sapateiro de Brooklyn com 91 anos. É mais um episódio pleno de sensibilidade, da responsabilidade de Dustin Cohen, um profissional da imagem que colabora com algumas das melhores revistas da actualidade.  O seu site ou Tumblr merecem visita periódica.

Táctil


estende a tua mão contra a minha boca e respira,
e sente como respiro contra ela,
e sem que eu nada diga,
sente a trémula, tocada coluna de ar
a sorvo e sopro,
ó
táctil, ininterrupta,
e a tua mão sinta contra mim
quanto aumenta o mundo

Herberto Helder